19 - O AMANTE...

(ilustração: Arlen Schiavo)


Ele chegou de repente em casa por volta do meio dia, após o almoço e encontrou sua linda e perfumada esposa em trajes de dormir, vestia sua esvoaçante camisola preta sob um penhoar aberto. Estirada no sofá vermelho que comprara nesta mesma semana.

Seu olhar ia de incrédulo ao desconfiado. Havia algo no ar que sua perspicácia insistia em não revelar.
Entretanto, súbita angústia tomou conta de todo o seu ser e a raiva começou, foi num crescendo até suas faces ficarem congestionadas de tanto sangue que lhe subiu ao rosto.

Aquele jeito dolente e lânguido olhar, ele bem conhecia.
Assim mesmo perguntou: - “onde estão os meninos”? “E a Marina”?
Marina era uma menina moça nos seus 13 anos que sua meio irmã deixara morando com o casal para que ela pudesse ajudar, tomando conta das crianças, e caminhar nos estudos frequentando as escolas do bairro.
- “Mandei os meninos para casa do compadre e disse pra Marina ficar com eles na parte da manhã”. Isto é, poderia despachá-los para escola de la mesmo e os levasse quando ela também fosse para suas aulas.

Olhou para a porta do banheiro meio entreaberta, viu que o banheiro tinha sido usado recentemente, ainda estava meio molhado.
Engolindo a seco, empurrou de leve a porta do seu quarto e viu que a cama permanecia sem arrumar.
A janela permanecia fechada apesar de ter feito um sol maravilhoso durante toda manhã.

Deu meia volta, pegou um remédio sobre a cômoda e saiu porta afora até sem se despedir.
No seu interior uma voz lhe dizia: sai fora!

Tinha certeza que, se permanecesse ali, ele acabaria cometendo uma loucura, como tantas outras vezes tivera vontade de fazer.
Entretanto estava na hora do serviço e o caminhão la fora, com ajudantes, seria testemunha de mais um vexame. Além do mais, não estava disposto a colocar em risco seu emprego. Respirou fundo passou água no rosto na torneira do jardim e saiu apressado.

No carro disse que havia se lembrado do remédio que deveria tomar à tarde e viera buscá-lo. Até o destino da viagem não disse nem mais uma palavra. Suas mãos crispadas no volante denotavam intenso nervosismo.
Ficou pensando se valia à pena ele ficar todos os dias trabalhando em horas extras virando de segunda a segunda, afinal tinha pouco tempo para ver os meninos crescerem.

O que se sabe é que naquela noite, tocou fogo no sofá bem assim no meio da rua; olhando o fogo devorar o plástico e a borracha.
E a voz dentro dele só resmungando: “Não no meu sofá”!!!

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CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 27/06/2009
Reeditado em 15/10/2010
Código do texto: T1670789