UM DESPERTAR DIVINAL
Manhã cedinho, eu acordei ouvindo o canto de pássaros. Meio sonolento ainda, resolvi prestar atenção naquela sinfonia matinal. Deste modo, pude identificar o canto típico e inconfundível de um bem-ti-vi. Escutei mais atentamente e percebi um espaço de tempo entre um canto e outro. Nestas alturas, já bem mais desperto, pude notar que havia um canto mais grave e mais audível embora, após alguns segundos, registrasse outro mais agudo, aparentando vir de um local mais distante. Pus-me a pensar sobre o que estava acontecendo e a primeira idéia surgida foi de que aqueles pássaros canoros estavam dialogando. Apurei os sentidos e novas idéias vieram para povoar minha mente. Entre tantas, ficou aquela que teimava em se firmar perante as outras e que apontava para uma saudação bentiviniana para o raiar do novo dia. Ainda não estava totalmente convencido, quando cantos, quase que simultâneos, vieram substituir os que eram esparsos e que eu ouvira até então. Parei novamente para refletir e fui tomado por um sentimento nostálgico, quase romanesco, de que os bem-ti-vis eram anjos emplumados que desciam dos céus diariamente para saudar a natureza terrena a cada dia renovado. Daí pensei, como é bom termos estes representantes celestiais, pois eles vêem, graciosamente, nos despertar, com tanta maviosidade, que nos deixam mais leves, para que possamos nos erguer e, em pleno vôo, vislumbrar as cenas do cotidiano. Este pensamento me acompanhou pelo resto do dia, levando-me a devaneios sobre outras dádivas que recebo gratuitamente, precisando somente abrir espaços na memória para perceber o seu valor e significado.