Bala perdida
Voltando para casa sentiu algo atravessando o seu corpo, ao acordar reparou que estava em um lugar diferente, não parecia a nada visto por ele antes, caminhou pelo corredor procurando alguém que lhe ajudasse com informações e ao virar para seguir por outro corredor, deparou com um velho conhecido seu, o susto foi grande, afinal este havia morrido há um ano, como poderia estar vendo.
Beliscou-se e não sentiu, algo de estranho estava acontecendo e ele ainda não tinha se tocado, o seu amigo acostumado com o local, convidou-o para conhecer o restante, confuso e sem saber o que realmente acontecia, aceitou o convite, mas antes pediu uma breve explicação, seu amigo foi direto:
- “Você está morto!”
- Como assim, morto?
- “Morto, você morreu vítima de uma bala perdida, que, aliás, te achou.”
- E a minha família, as minhas coisas, o meu emprego?
- “Já era, lembra do meu caso, tão jovem e se foi!”
- O seu caso é bem diferente do meu, abusava do álcool, do cigarro, da gordura, morreu novo por que quis.
- “Eu não queria nada, a não ser aproveitar a minha vida o melhor possível, e foi o que eu fiz, não me arrependo de nada.”
- Caramba tinha tantos planos, meus filhos nem entraram na faculdade, e a minha mulher o que será dela agora?
- “Não esquenta a cabeça, Deus sabe o que faz se preocupe em viver essa segunda vida da melhor maneira possível.
- Que “cara” sem coração é você, você não sabe a dificuldade que a sua mulher e os seus filhos estão passando depois que você morreu.
- “Me diz, o que é que eu posso fazer você acha que eu planejei alguma coisa? Para mim foi uma surpresa, assim como tu, voltava para casa depois de um dia cansativo de trabalho, e senti uma forte dor no peito, quando acordei já estava aqui.”
- Eu sei disso, acompanhei você no hospital, morreu de infarto, decorrente da sua vida desregrada, foi uma perda lastimável para nós, quantos anos você tinha mesmo?
- “45! Uma vida inteira pela frente, minha esposa e eu viajaríamos no fim do ano para a Itália, em comemoração aos vinte anos de casamento, uma pena não ter ido. Tudo bem, hoje posso ir para qualquer lugar, basta apenas avisar com antecedência o destino, depois que morri já fui duas vezes a Roma.
- Pô, mas nem morto você pára com piadinhas? Estou preocupado com a reação da minha mulher, esse ano faríamos vinte anos de casamento também, daqui dá para ver alguma coisa lá de baixo?
- “Lá de baixo? Você quer dizer lá de cima, não é?”
- Não vai me dizer que além de ter morrido, fui parar no inferno?
- “Hahahahaha!!!!! Brincadeira, estamos no céu, não fomos tão ruins assim em nossas vidas terrestres, relaxa, vamos continuar andando, preciso lhe mostrar os outros moradores daqui, tem cada famoso.”
- Eu estou lá preocupado com os famosos, quer dizer, as bonitonas da televisão estão todas por aí? Marilyn Monroe está por aí?
- “Não a Marilyn Monroe, está no purgatório, cumprindo penitência, porém aquela gostosa que fez o papel no filme do James Bond está.”
- Você não me respondeu, podemos ver alguma movimentação lá de baixo?
- “Infelizmente não, como disse aqui é uma segunda vida, de agora em diante você precisa se preocupar com esta, o que acontece lá embaixo, fica por lá mesmo.”
- E você já viu o nosso criador?
- “Sim muitas vezes, se não me engano essa semana "ELE" foi para a Europa resolver umas pendências, o povo que gosta de confusão.”
Sentiu novamente uma sensação estranha e acordou num leito de hospital, sua mulher e filhos olhando para ele, assustado perguntou sobre o seu amigo, e se eles também tinham morrido, chamaram uma enfermeira e pediram que diminuísse a quantidade de sedativos, pois ele estava delirando.
Perguntou novamente pelo seu amigo, morto há um ano, e desesperado queria saber aonde ele se encontrava e o que estava acontecendo, há poucos minutos conversava com o seu amigo no céu e agora voltava para “Terra”, seus filhos explicaram o motivo de sua internação, que não foi muito bem digerida por ele. Como assim um mau súbito, e a tal bala perdida que acabou me achando? Deixaram no quarto sozinho para recuperar, entendiam que os remédios lhe haviam causado delírios e descansando voltaria a normalidade.