Vence Na Vida Quem Diz...
Vinha sendo perseguida por um diálogo. E já faz tempo, ó... Tentei ignorá-lo. Daí os elementos começaram a me apedrejar – sim, os elementos do diálogo! – tudo isso para que eu voltasse a lhes dar “trela”. Uns mal-educados, boca-suja, uns desclassificados que não sossegaram enquanto não concordei em pô-los no papel.
Sempre fui de sonhar muito - dormindo ou acordada, tanto faz – mas agora cheguei num ponto em que não estou mais conseguindo, facilmente, separar sonho de realidade. Por isso não posso garantir se sonhei com esse diálogo, se o inventei ou se realmente aconteceu comigo. Sinto muito, não posso garantir sua origem. Não deve ser à toa que o meu marido subiu o alarme de preocupação (com a minha sanidade mental) para o nível laranja, que precede o mais alto, o vermelho.
Vamos então ao causador da confusão, o famigerado, o diálogo perseguidor:
Uma falou:
-- O chefe queria que eu lhe beijasse a bunda. Então eu disse “Não”! Foi o “Não” mais difícil também o mais bonito que já falei em toda a minha vida.
Ao que a outra replicou:
-- Que nada, minha filha, nesses tempos de crise, desemprego... Se fosse eu, beijava-lhe a bunda, o saco, o que mais ele quisesse e depois lavava a boca. Lavou, tá novo!
Pronto, te escrevi, “disgramado”! E agora, o que acontece? – isso foi o que eu lhe falei quando perdi a batalha e aceitei dar-lhe vida no papel, como ele bem queria.
Até aí tudo normal... Não fosse a vitrolinha aqui de casa ter se apaixonado por Chico Buarque e por isso ficar tocando não sei quantas vezes a mesma música:
“Vence na vida quem diz Sim!
Vence na vida quem diz Sim.”
Prestando atenção na letra - de Chico e Ruy Guerra – percebi o sentido dúbio, irônico, o uso inteligente dessa afirmação no contexto da música, claro.
Juntou então o “Sim!” da música com o “Não!” do dito-cujo diálogo perseguidor, aí fiquei pensando que “Talvez”...
Talvez não devesse me considerar perdedora por certa vez ter respondido “Não” em lugar de um “Sim senhor!”, ainda que essa resposta tenha mudado minha vida de ponta à cabeça, e de eu quase ter perdido o juízo arcando com as conseqüências.
Sensação boa é olhar pra trás e ver que, na verdade, a escolha não foi entre um simples “Sim!” ou um “Não!”, e sim entre um “Viver” ou “Quase-Viver”, um estado que, como bem descreveu Luís Fernando Veríssimo é pior do que a morte.
Não digo que não doeu ter optado pelo “Viver”, escolha essa que de fato “me matou”, mas também me deu a chance de “renascer”.
Só sei que é bom olhar para trás e ter a sensação de ter feito a melhor escolha que podia na época.
Nesse sentido, penso que só tem a perder na vida quem diz “Sim!” quando na verdade tudo o que mais deseja dizer é “Não!”.
Por isso é que agora eu só canto assim:
“Vence na vida quem diz...
Vence na vida quem diz...
Vence na vida quem diz...
Vence na vida quem diz...”
Nota da autora:
Pra você que muito me honra lendo e acompanhando meus textos, passarei um tempinho sem poder publicar coisas novas neste cantinho. Tão logo possível darei continuidade às costumeiras interações. Tudo de bão prucê e até breve, se Deus permitir!
Um abraço fraterno :-)