Caminhos de São Paulo: Leste - Parte II

Caminhos de São Paulo

Leste - Parte II

Indo para a Igreja da Penha

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COMPROMISSO

Dá vontade de desistir, correr daqui, esconder-me embaixo do cobertor da segurança de não correr riscos – qualquer lugar em que eu não sinta frio, desconforto, só fique quietinho.

Dá vontade de burlar as regras – “ dar um jeitinho” – chegar mais rápido, ir voando, mas permaneço caminhando, insistindo, procurando, mesmo sem ter certeza, sento à mesa e vou participando dessa odisséia maravilhosa que é procurar pelo Divino que vai acabar de volta em mim.

Subo a ladeira da Penha, canto mantra, rezo uma novena e de repente dá vontade de cantar um sambinha do Cartola:

" Vem,

Tudo é belo por onde eu passei

E será onde eu passar.

Vem, ao meu lado eu sei, vais sorrir, vais cantar.

Não me convence essa tua tristeza,

Vem, há um Deus, há uma natureza.

Vem, caminhar para além de todo o mal.

Vem, é a meta final da estrada universal.

Vem, vem, dar-me a paz e ter paz, junto de mim.

Vem, fica comigo assim, até o fim! "

Então, já dentro da igreja, um rapaz me pede silêncio. Deve ser sacrilégio cantar um sambinha clássico enquanto todos estão rezando. Desculpa, Deus! Eu achei que essa canção do querido Cartola fosse uma espécie de oração.

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PERÓLAS DO ANÔNIMO

Chego ao albergue e leio no livro dos peregrinos:

“ Aquilo que todo mundo busca é o desejo inteiro que nasce com a gente e manteremos conosco até o dia que morrermos.

Anônimo“

Esse autor anônimo é mais famoso que o Paulo Coelho.

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NA CAMA

Deitado na cama do albergue, pergunto-me se essa caminhada vale mesmo a pena.

Qual o sentido de peregrinar?

Durante alguns momentos do dia, faz sentido; em outros tanto faz, mas caminhar é mesmo assim.

Sigo algumas setas, obedeço as informações do mapa, mas desconfio que não é em Santiago que vou parar.

Frank Oliveira

http://cronicasdofrank.blogspot.com/