30 - NOS BAILES DESTA VIDA...

NOS BAILES DESTA VIDA...

Preste atenção meu rapaz,

No que eu lhe digo, agora,

Não saia assim de fininho,

Pois eu já comecei nesta hora.

Se não acredita, tudo bem

Só diga se for capaz.

Nas noites de sexta e sábado,

Nem bem a lua surgia,

Fosse cheia, minguante ou crescente

Se baile houvesse ela aparecia

Com seu vestido tão branco

Que à luz da lua azul parecia.

Quando no salão adentrava,

Perfume discreto de rosas trazia.

Nos bailões bem conhecida

Um dançar sem alvoroço,

Se o parceiro quisesse

Um arrocho aumentar

Ficava a ver navios.

Deixava-o plantado ao vento

Como capim em campo de várzea úmida

Bem no meio do salão

Como costela sem osso

Se você não acredita

Pergunte bem a qualquer um.

Todos sabem da história,

Se não falam até entendo,

Não faço disso um mote

Entre mudo e surdo (bem sei)

Sai calado, sai vazado no pinote.

A todos os bailes ela ia

No galpão chegava antes

Como dizia Pezão: - mulher bem cedo não paga.

Dançava até cansar

Embora não demonstrasse,

Enquanto outras damas

Em grossas bicas suassem

Lenço branco na mão direita trazia

Tocava o corpo do parceiro

Que a frieza não sentia.

Ingresso pago ou não

Não importa o que vale

Descia o morro chegando

Às portas da Aposvale.

Sempre havia alguém

Que obsequio fazia:

Estou aqui lhe esperando!

Sabia que você viria.

Vamos?! - Chegue sem medo

Dançar até amanhã bem cedo

O que se sabia ao certo

Que quando alguém ela queria

Bem perto o rosto colava

Não encostava decerto

Por tão próximo ficava

Ela queria mesmo era o calor

Do seu parceiro roubava.

O moreno todo exibido

Querendo fazer bonito e seu relógio mostrar

Olhou uma vez, duas: estava parado!

Como assim? Relógio lindo e novo...

É o que dizia o povo.

O que ele não sabia ao certo

Se fosse por ela escolhido,

Ela com a mão direita roçava

Bem atrás do seu ouvido,

Um cafuné bem discreto.

Não tem jeito tá ferrado!

Bem antes o fim baile chegar.

Uma piscadela um convite.

Me leve pra minha casa

Era o sinal esperado.

Vou ao banheiro e volto já.

Tendo certeza eu espero.

Se tiver espelho não quero!

Não vou por nada neste mundo ou outro

Minha verdadeira imagem mostrar.

Não danço em academia

Nem de noite nem de dia.

Voltando do banheiro então,

Seu parceiro com amigos comentava:

Hoje eu me dei bem!

Coisa que ninguém depois

Com certeza absoluta, afirmava

O que se sabia, beleza!

Que aquele cabra sortudo

Em bailes não ia mais

Pensava o que dizer, ‘Isso é tudo’!

Mas antes disso, porém,

O casal ia descendo Mestre Emilio.

Passando a Modestina,

Na João Pinheiro chegando.

O parceiro todo afoito dizia a sua amada

Aguarda aí um pouquinho

Perto da casa do ‘Grilo’

A padaria esta abrindo vou lá

Um trago tomar ver este frio eu mato

Tá danado, não sei como você agüenta.

Vou num pé e volto noutro, peraí

Não se esquenta.

Mal ele partia,

Ela a Mestre Emilio subia.

Passando pelo seu Cícero e depois a Lavanderia

Chegando à Alfredo Sampaio,

Dobrava a esquina urgente.

Como que voando estivesse

Sempre em frente ela sumia.

Hotel Europa à vista.

O seu parceiro a vira,

Cansado e quase desistindo.

De novo olhou e a viu,

Ela subira veloz, enorme escadaria

.

Do sombrio casarão,

No seu interior emergia

Barulho de gente dançando

E música alegre se ouvia.

Abrigava estranho baile.

Pessoas soturnas dançando.

Agora viram a Louraça,

Por entre os casais se esgueirando

Passando, como se mortos estivessem.

Todos com olhar alheio, estranho.

Quando ele perguntou se

Viram sua pequena eles sinalizaram,

Com os dois braços estendidos.

Ela saiu pela porta afora passando pela parede.

Como se buraco houvesse.

Ouviu o barulho de gonzo rangendo, gemendo alto.

E velho portão do cemitério batendo.

Não sei se você acredita

Por mais descrente que seja

A louraça descrita aqui:

É a que no Baile do Parente dança!

***

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 26/06/2009
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