Saudades
"A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente, morena
A saudade é dor pungente, morena
A saudade mata a gente"
(A Saudade Mata a Gente - Antônio Almeida e João de Barro)
Ele embarcou de manhã. Uma viagem curta. Três dias, a trabalho. Você retoma a rotina, tranqüila, certa de que o tempo passará rápido e logo estarão juntos novamente. À noite, ao chegar em casa, percebe o vazio. Ocupa-se, procura o que fazer, mas em todos os cantos, a ausência dele se faz mais presente. Aos poucos tudo perde a graça e a cor. Os telefonemas e e-mails aliviam um pouco a tristeza, mas o relógio passa a ser o companheiro inseparável, avançando lentamente até o momento tão esperado do reencontro. O nome disso é saudade.
Ela chega de mansinho e se instala nos detalhes do seu dia a dia, até dominá-lo por inteiro e tornar-se avassaladora. Bom quando é possível aliviá-la um pouquinho com um telefonema, uma foto, uma música. Melhor quando ela tem prazo para acabar, como no exemplo acima.
Mas, ela pode mesmo enlouquecer a gente quando é só o que resta daquela pessoa, daquele lugar, daquele tempo. Pode amansar uns dias, dando-nos alguma paz. Mas basta um cheiro que nos traga doces lembranças para nos entregarmos a ela.
Assim como existem muitos tipos de amor, existem muitas saudades diferentes. Saudade de casa, dos pais, do cãozinho de estimação da infância, da festa junina na sua cidadezinha do interior, do primeiro namorado, do último... Algumas dessas saudades não chegam tanto a doer. Outras vão nos dilacerando por dentro, tiram a alegria de viver. Com o tempo, também essas arrefecem. Cansam ou nos cansamos delas e elas passam a ser saudadinhas inofensivas, colorindo de dourado as imagens do passado.
Uma coisa é certa. Só se tem saudade do que nos fez bem.
Quando ela bater forte e fundo, e sentirmos o peito apertado até quase sufocar, pensemos que esse sofrer é sinal de que tivemos em algum momento, ainda que efêmero, a tão sonhada felicidade.