SEUS PÉS QUASE NÃO TOCAVAM O CHÃO
Minha filha chora inconsolável, não se conforma. Não sei quando vou chorar, ainda não caiu a ficha. Quando morre um ídolo ou um amor a gente morre bastante também e o ar nos sustenta. O encantamento foi.
         Na década de setenta eu assistia e curtia alegria ouvindo os “JACKSON FIVE”, passava quase todos os dias nas tardes da TV. Eram tão lindos e animados, com suas vozes e danças, que eu nem lembrava que não era feliz. A TV naquela época era uma presença. Os “Jackson Five” eram cinco irmãos em escadinha. O menor se sobressaia entre todos, pela graça e pela voz melhor. Tinha mais encanto, mais expressivo e os irmãos, menos. Não demorou ele se sobressair, e começar carreira solo, e voz e beleza foi crescendo virando um adolescente muito bonito, negro, belas feições e roupas criativas favorecendo a cena. Os irmãos continuaram, mas ele se destacou cada vez mais, era um talento musical de canto e dança. Ele compunha, ele tinha um ritmo todo peculiar, e inventava uma coreografia nova de um encanto que ia se renovando quanto mais o tempo passava. Cada vez mais lindo e original. E acabou. Fica a angústia da ausência, da impossibilidade de ainda tê-lo como tesouro da nossa própria vida. É cruel, parece que não se vai agüentar. Simplesmente foi ficando fantástico e a fama veio. O artista é a beleza, é a arte, que faz tanto bem a nós humanos, ele nos acrescenta tanto que nem sei. Mas a gente fica mais. Mais forte. Mais rica mais criativa e mais animada. Passei a adorá-lo. E meus filhos foram nascendo e crescendo e virando seus fãs também. Minha filha gravava tudo dele. Dançava junto copiando-o quando se apresentava em TV, shows. Quando se apresentou em São Paulo ela queria ir assistir seu show, mas não tínhamos condições. Ela canta tudo dele. Eu entou todas as melodias. A que mais gosto é Billie Jean. Mas o charme dele, seus trejeitos, coreografias, seus passos especiais e encantadores... Aqueles pés que quase não tocavam o chão me enchiam de encantamento, uma arte fantástica. Um balé perfeito e inovador. Nunca os americanos tiveram um astro tão especial, supertalentoso! Aquele seus pés com meias brilhando pedrarias e os sapatos de verniz na pontinha dos pés! Lindo! Um pássaro de gestos e poses de beleza!
A morte é assustadoramente cruel com os vivos que perdem seus astros e ídolos. Retira-os das suas vidas. Sente-se que não se vai agüentar.