CINZAS FRIAS, PÃO AUSENTE
O pão nosso de todos os tempos, nascendo das mãos de mães, avós, tias... a massa crescendo coberta pelo algodão branquinho ! Cozinhas distantes, chaminés fumegantes, forno ardente queimando as faces, vaivém de fôrmas. Movimento de mãos cortando as fatias, sob olhares curiosos e famintos, calor nas entranhas saciadas, carinho de mãos tocando meus cabelos. O pão nosso de todos os dias de nossas vidas precisa dessas mãos para entrar pelas bocas famintas e chegar ao coração.
É preciso reatar esses laços perdidos entre o alimento do corpo e o alimento da alma. Estamos carentes de pão com lágrimas, estamos carentes de pão com sorrisos. Nossas entranhas não se aquecem com fast food e refrigerantes. A grande fornalha da vida está em cinzas nas cozinhas exíguas dos apartamentos. Uma criança não encontra significados em um pacote de salgadinho que ela mesma pegou do armário. Uma criança precisa de alimento amoroso e um feijão com arroz compartihado alimenta maravilhosamente qualquer criatura. Nâo existe pior fome do que esta que deixa famintas crianças obesas, deixa famintas crianças superalimentadas.
Nossos tempos de filhos únicos, natalidade controlada, programada, de um lado, e de milhares de órfãos da pobreza endêmica de outro, são curiosos tempos aonde parece haver uma carência generalizada de valores essenciais substituídos por condutas de pessoas escravizadas pelo controle midiático, marionetes de muitos fios, filhos da velocidade e da pressa, tempos de controle das tele telas, aonde somos reféns da tecnologia e sufocamos na pressão de um burocrático aparato que mede e pode prever até nossos desejos mais escondidos com suas pesquisas, com as nossas vidas cadastradas e nossos sonhos sob condição e vigilância.
Os filhos de nosso tempo sofrem com a falta desse pão essencial e em seu lugar recebem essa magra ração de isopor com
uma generosa camada de desesperança e urgência, fato que os faz cada vez mais suscetíveis a cumprir a sua parte no grande e magnífico plano do Grande Senhor das Trevas com Cara de Cifrão, cujos profetas usam pele de cordeiro, apontam inimigos e conspirações alhures, enquanto monopolizam riquezas a qualquer preço e, sob seu manto sagrado de aluguel, fazem uma solene banana para o mundo .
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uma criança não encontra significado