PAPAGAIO ALCOVITEIRO
Maria Leitão ficara viúva. Seu marido Faria Lobo não fora um bom marido: mandão, alcoólatra, fizera dela uma doméstica sem tempo para curtir a vida. Era só cuidar da casa e do marido. Maria Leitão não podia esconder a felicidade que sentia; estava livre, livre para viver a nova vida.
Morava num pequeno condomínio; pequenas casas, bons vizinhos. Por sorte, não tivera filhos. Casa pequena, um jardim bem cuidado e um grande companheiro – seu papagaio! O louro falava tudo: cantava, dava boas risadas. Os vizinhos também gostavam da ave que alegrava o condomínio. Maria, feliz, podia agora conviver, passear, dormir sossegada.
Do seu lado morava um viúvo, o Pedro, gente boa, aposentado que sonhava com uma nova companheira. Maria sempre simpatizou com o vizinho. Resolveu, então, usar uma técnica para chamar sua atenção. Ensinou o louro a chamar: - "Seu Pedro! Ôh seu Pedro"! Ele da varanda, achou graça e começou a prestar atenção. Dias depois o louro dizia: - "Seu Pedro! Ôh seu Pedro! Venha ver sua amada"!
Maria quando encontrava o vizinho pedia desculpas e dizia: - "Não sei quem ensinou a meu louro a lhe chamar"!
E nesse vai e vem de conversa foram se tornando amigos.
As vizinhas mais próximas, Ana Cordeiro e Regina Leão, já fofocavam na vila: - "Isso já vem de longe...antes mesmo do marido morrer"!
Pura inveja, pois eram solteironas e não podiam ver alguém feliz – se arranjando.
Eli Formiga já torcia pelo encontro dos viúvos: – "Já pensou! Tão sozinhos! Um fará companhia ao outro".
A luminosa idéia de Maria Leitão, usando seu papagaio para conseguir um novo marido, deu certo. Logo se acertaram, puseram um portão na cerca que os separava e, juntos ensinavam ao louro falar: - "Casar é bom! Quem quer casar? Casar é bom"!