06 de maio de 1917
06 de maio de 1917
À tarde, na guilda, meus relatos já não eram novidade. A Amkov enviou um grupo de especialistas até o local onde eu havia encontrado o zumbi. Eles o examinaram e confirmaram o que eu já sabia. O importante agora, era saber o que fazer com a informação. Era muito provável que os únicos a ter algum conhecimento sobre os recentes fatos seríamos nós da guilda. E seria bom que essa informação se mantivesse ali, quieta, por pelo menos algum tempo. Gerrad enlouqueceria se soubesse que a criatura que ele mais odiava estivesse viva mais uma vez. Eu no lugar dele não me surpreenderia, eu tinha certeza de que o apelido de "imortal" não era à toa.
Providências precisavam ser tomadas. Em alguns dias a maldição de Einham infectaria centenas de criaturas que por sua vez infectariam outras centenas e criariam um ciclo idêntico ao de 60 anos atrás. Nós ainda não tínhamos noção do quão grave a situação era, portanto teríamos que investigar. Eu supunha que por mais estúpidas que fossem, as crias de Einham não iriam invadir as ruas do Inferno, nem de Telro, e muito menos as da Lótus (eu mesmo pensaria duas vezes antes de entrar naquele lugar), poderíamos descartá-los da lista de locais de busca. Já o Porto era um alvo fácil para os filhotes de Einham, as ruas e esgotos abandonados eram os locais onde eles instalariam seus ninhos. A Amokv precisava agir logo. Sugeri a formação de 20 grupos de busca, meus superiores aceitaram a decisão e me puseram na liderança de uma das equipes. Hora de trabalhar.
Eu e 12 subordinados iniciamos as buscas enquanto o sol se punha no horizonte. A noite era a mãe dos perigos de Lettoria, não seria diferente desta vez. Nós havíamos recebido a informação de que alguns assassinatos horrendos haviam ocorrido na fronteira entre Lótus e Telro, eu hesitei em ir até aquele local amaldiçoado. Vez por outra um infernal¹ passava por aquela região trazendo consigo seus bichos de estimação e seus irmãos de insanidade. Encontrá-los agora seria ainda pior que encontrar 20 zumbis.
As horas passaram, a lua brilhava forte no céu enquanto meu grupo andava por algumas das mais fétidas ruas de Lettoria. Alguns civis passaram por nós, eles eram tão amedrontadores quanto as mais agourentas criaturas noturnas, tentamos conseguir informações deles, mas era o mesmo que tentar conseguir informações de uma pedra. Todos pareciam ter uma espécie de problema mental grave. Eram apáticos e lentos, desnutridos e alienados, vítimas das maiores mazelas da cidade, não pareciam ter vontade de viver. Receio que realmente não a têm.
Eu e meus subordinados cobríamos uma área de aproximadamente 5km. Um deles alertou o grupo com um tiro sinalizador. Em menos de um minuto chegamos até ele. Forren era seu nome, ele permanecia parado de pé avistando uma cratera a 100 metros de distância.
-Um ninho, senhor. - disse ele a mim apontando para a bocarra obscura.
Meu estômago embrulhou.
-Tem certeza? - perguntei.
-Absoluta. Mesmo daqui posso confirmar que ele se encaixa perfeitamente nas descrições e nos padrões de todos os outros ninhos já encontrados. - informou Forren.
-Podemos projetar o tamanho de sua área? - perguntou uma das especialialistas da equipe.
-Somente se o adentrarmos, mas não poderemos fazer isso agora. Parece ser muito grande e muito perigoso. - respondeu Forren.
Sua resposta foi um presságio. Rugidos altos ecoaram pelo quarteirão, logo após, uivos e berros sedentos. Olhamos ao redor. Zumbis surgiam de cada fresta que podíamos ver. Grandes, pequenos, todos tinham um sentimento em comum.
Queriam nosso sangue.
1.infernal: habitante do bairro Inferno