O Dia Infinitamente Longo - Txt. III

Cap. I - Aurora

Pt. III - A Selva do Século XXI

Levanta-se o véu, e como formigas deseperadas eles dançam um balé incessante de gaiolas de aço e grilhões de pano, em um palco opaco regado a suores e fumos. Agulhas de concreto entrelaçadas por linhas de ferro e quartzo tecem a teia imaginária desse emaranhado frenético que permeia nossa caminhada fugaz. Aquarios humanos se amontoam, formando pilhas concretas de vazios sentimentais que brotam do chão estéril como flores putrefatas. Manchas de um verde pálido infectam a paisagem entristecida, como um fungo que se ocupa da carne morta. Um máquinário biológico embotado de cimento e lágrimas, perambula atordoado, com o animo abafado por essa névoa de marasmo inebriante que se estende ilimitadamente e flui de forma espectral contornando esse teatro de tragédias sequencialmente familiares através dos rios de piche, desembocando no pano de fundo oceânico da mediocridade, a qual todos reverenciam. Quanto a mim, nesse cenário de hostilidades mil, aonde letras garrafais gritam e fluorescências alternantes brincam com tamanhos e tons, nada me chama a atenção.