E era São João!
Tinha esquecido da data!Até eu que sempre comemorei com vontade São João! Culpa do céu cinzento, do inverno cinzento, do tempo cinza e chuvoso que não deixou a noite chegar inteira. As estrelas não tiveram vez, apagadas pela parede cinza que cobre toda minha cidade. Difícil lembrar que era São João!
Não haveria fogueira,certamente. A chuva inclemente que cai afasta a boa vontade dos meninos, que juntaram lenha a semana toda e armazenaram no único terreno baldio da rua, mas já posto à venda pelas imobiliárias que dispensam as tradições. Os quatro pneus carecas que os meninos arrecadaram, também esperam agora melhor destino do que ser depósito de mosquito no pátio da borracharia.
As mães se compadecem dos filhos, olhando o tempo feio. Mesmo assim,farão as pipocas e os pinhões estarão no fogo.Hoje a natureza não colaborou.São João não quis ser lembrado com fogos, mas com lágrimas de uma chuva que mostra nossa fragilidade diante da vontade da Terra.Trocou de lugar e mando com São Pedro,que caprichou na água da chuva,como se fosse o dia dele!
Talvez ele tenha visto o noticiário e ficado triste com o estrago que os balões fazem ao cair nas Refinarias de Petróleo, nas matas, e até em apartamentos - fato acontecido no Rio de Janeiro - levando vidas e causando desespero. Talvez ele tenha pensado nos meninos - que imprudentemente - soltam morteiros, bombinhas e colocam suas vidas em riscos. Imaginou as queimaduras, a dor intensa e teve compaixão.
Chamou o Pedro e chegaram a conclusão que o melhor seria a chuva. Que as mães mantivessem as crianças no aconchego de suas casas e aproveitassem a oportunidade para conversarem, se aproximarem e lembrarem com muito carinho da tradicional festa em sua homenagem.
Diante destes supostos argumentos eu, que também amo as Festas Juninas, vou preparar minha canjica e colocar aquela musiquinha que a molecada adora e nós também!
Pula a fogueira Iaiá,
pula a fogueira Ioiô.
Cuidado para não se queimar.
Olha que a fogueira já queimou o meu amor.
Nesta noite de festança
todos caem na dança
alegrando o coração.
Foguetes, cantos e troca na cidade e na roça
em louvor a São João.
Nesta noite de folguedo
todos brincam sem medo
a soltar seu pistolão.
Morena flor do sertão, quero saber se tu és
dona do meu coração.
Autor: João B. Filho
texto escrito pelas comadres Malu & Brigeth