O leitor perfeito.
A rima pode até ser pobre mas escrever para mim é um prazer. Talvez por isso eu não tenha feito deste ofício meu ganha pão. Ser obrigada a escrever cumprindo prazos e contando linhas não é a minha praia. Muito menos ter a obrigação de agradar a quem quer que seja. Mas também não sou hipócrita dizendo que escrevo só para mim. Não escrevo. Escrevo para que algumas pessoas que gosto leiam. Evidentemente essas pessoas sabem apreciar o prazer da leitura. Não escrevo para as pessoas que gosto mas que não gostam de ler.Ou que não sabem ler. Porque, se escrever é uma arte, ler também é. É preciso ter olhos de leitor para extrair da leitura todas as suas possibilidades. Um texto é como um diamante multifacetado. Dele, a cada vez que se lê, é possível extrair uma visão do mundo. E nem sempre conseguimos extrair a visão do autor. Na maioria das vezes um texto serve para checarmos a nossa própria visão do mundo. Para ampliá-la ou modificá-la.
Alguém muito querido me disse um dia desses: escrevo para você. É a sua opinião que quero ter. Fiquei feliz, é claro. Porque eu também escrevo para ele. Assim como ele deve ter exagerado ao dizer que escreve para mim, eu também exageraria se dissesse que escrevo só para ele. Escrevo para ele e outros mais. Quando escrevo penso: acho que x, ou y ou z gostariam de ler isso. Então capricho como capricho quando vou a um lugar especial ou ver pessoas especiais. Mas não mudo o meu jeito de ser nem em um caso nem em outro.
As pessoas que me lêem têm de mim visões diferentes. Isso é óbvio porque os olhos de cada um vêem a seu modo. Mas eu sou o que sou. E tenho um desejo dentro de mim: encontrar o leitor perfeito. Aquele capaz de perceber em meus textos, prosa ou verso, seja lá o que for, quem realmente eu sou, o que realmente escrevi. Ler o que eu escrevo como se lesse com meus olhos e sentisse com minha alma. É uma utopia, eu sei. Eu também não sou uma leitora perfeita. Quando leio porém, eu tento extrair o máximo do autor. Compreendê-lo em todas as suas nuances. Já me enganei muitas vezes mas os enganos sempre foram cometidos quando eu não li com a alma. Só com os olhos. Porque a alma não erra nunca.