LIÇÃO DE SABEDORIA

Hoje levei meu carro a uma oficina e lá encontrei o seu Lauro, um senhor de 84 anos, falante, alegre, bem disposto. De chapéu na cabeça, uma barba branquinha, roupas simples, jeito de quem já deu muito duro na vida. Seu carro estava pronto e ele fora buscar. Um Chevette ano 1990 com uma aparência bonita e um motor muito saudável, segundo as palavras do mecânico. Seu Lauro me contou orgulhoso que foi o segundo dono do carro e está com ele há 7 anos. Anda pouco, cuida muito. Não é do tipo "apaixonado por carros como todo brasileiro", apenas cuidadoso. Contou-me que já teve caminhão e que aprendeu a cuidar bem porque era sua casa fora de casa e como sempre estava fora de casa, sentia-se em casa na boleia do caminhão. Disse que o zêlo nunca é demais, com a gente, com as pessoas e com as coisas que possuímos. Concordei. Falou-me de suas viagens e experiências ao longo da vida, mas o que mais me chamou a atenção foi ele dizer que mora sozinho e tem uma namorada 40 anos mais nova que ele e não pensa em se casar de novo ou morar com ela, que gosta de viver assim desde que ficou viúvo, há 7 anos. Da namorada ele não cobra nada, nem fidelidade. Ela mora em outra cidade e ele a visita quinzenalmente. Disse-me que o importante é que quando eles estão juntos as coisas estejam bem, fazem programas sociais, namoram e são boa companhia um para o outro. Não precisa de muito pra viver bem, preza os amigos, os filhos, noras, genros e netos. Tem uma vida simples, ganha o suficiente para manter-se e ao seu "velho" carro, que lhe dá muitas alegrias, o leva para onde quer ir e o faz independente. Sua saúde é de ferro, deu pra notar. O segredo? Não fuma, bebe pouco, mas não dispensa sua cachacinha no final das tardes, só não nos domingos e segundas. Algum ritual, sei lá, não entramos em detalhes sobre isso. O que importa mesmo é que aquele senhor me mostrou algo importante. Que devemos viver a vida da melhor maneira que pudermos em qualquer fase dela. O que realmente tem importância são as coisas básicas que nos dão verdadeira satisfação: amigos, família, alguém especial com quem gostamos de estar, bens materiais suficientes para nos mantermos e muita alegria de viver. Afinal, "não pedimos para nascer e não sabemos quando iremos morrer, portanto devemos aproveitar o intervalo" e o intervalo é hoje. Ninguém precisa esperar viver mais de 80 anos para descobrir que o mais importante é viver o presente. Amar intensamente, trabalhar o suficiente, alegrar a si e aos outros são coisas que estão ao alcance de qualquer pessoa. Deus nos deu a capacidade de superarmos tudo o que nos é apresentado como dificuldade. Sempre há uma segunda opção, é só ficarmos atentos. De uma tragédia pode vir um grande triunfo. Pense em quantas vezes você foi agraciado com uma desgraça que se transformou em oportunidade de viver uma realidade melhor. Um abandono, a perda de um emprego, da saúde. Tudo tem um propósito mas temos que encontrar esse propósito e enxergar a bênção que vem com ele. Nossa pergunta não deve ser "por quê" mas "para quê", só assim vamos entender que o final é igual para todos, o destino do ser humano, seja ele da cor, raça, religião ou sexo que for, todos vão para uma sepultura. A diferença para onde iremos depois está no que acreditamos enquanto estivemos aqui e em como vivemos a dádiva que Deus nos concedeu.

Ah, e quanto ao seu Lauro, fui convidado a passar num final de tarde em sua casa. Não vou perder a oportunidade de aprender mais segredos de como ter longevidade com tanta disposição.

Ivan De Lima
Enviado por Ivan De Lima em 24/06/2009
Reeditado em 30/03/2011
Código do texto: T1665112
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