Como Ter Voz?

Como Ter Voz ?

Evane A. Barros Barbuto

Estamos nos acostumando aos problemas de corrupção e violência tão banais e repetitivos eles têm se tornado. As notícias ruins se sucedem de maneira ininterrupta ante nossos olhos e ouvidos. Agora, é reconhecer nossa omissão, indiferença e conformismo face à estúpida situação que temos presenciado. Dos que discutem e se preocupam é comum ouvirmos: “o povo está sem voz; não se ouve mais o grito do povo”. Temos de concordar que estamos cansados, saturados, perplexos, como que anestesiados com o caos de vergonhas, desgraças, violências e impunidades divulgadas todos os dias.

Muitos que analisam o sistema dividem assim a população: - os verdadeiramente ricos, que se divertem, vivem bem e satisfeitos desde que a situação não lhes atinja diretamente ou lhes atrapalhe o ritmo de vida; - os remediados, trabalhadores, profissionais, divertem-se como podem, constituem o povo que trabalha honesta e diuturnamente enfrentando o desconforto das estradas, do trânsito, da insegurança, do aperto dos impostos e baixos salários, correndo de cá para lá buscando chegar são e salvo ao lar para o descanso merecido; - e os verdadeiramente pobres que sobrevivem com as esmolas e as enganações a que os governantes lhes impingem. Assim, vemos que há realmente razões e razões ( não vamos detalhá-las ) para que nesse país, de alguma maneira, quase todos busquem se calar. Fase do desleixo, do egoísmo, do ocultismo da voz, das injustiças, do conformismo e, não podemos negar, da perplexidade que nos causam as corrupções, as impunidades e as incompetências. Entretanto, um detalhe não pode calar - como soltar nossa voz de protesto e tentar reverter essa absurda situação? Tamanho desenrolar de surpresas desagradáveis e de dificuldades diárias nos roubam as forças impedindo-nos de gritar. Engolimos tudo. Todos os dias. Vivemos uma incompetência cidadã de dar dó.

Lembramos aí de nossos jovens. Onde está a voz de protesto da juventude com que contamos, levantando bandeiras, criticando situações indesejáveis? Que é do grito novo, tenro, fresco e contundente de nossos jovens esclarecidos? Dentre os que poderiam e deveriam dar o grito necessário, também, instalou-se a acomodação. Parecem, muitas vezes, viver a espera de ajuda e de desfrutes advindos da família e da sociedade, entorpecidos com a gama de divertimentos e facilidades oferecidas. Exceções existem. Tudo bem, o mundo mudou e a fleuma do jovem, infelizmente, também. Independente de classe, credo ou cor, todos aqueles que poderiam protestar, após a merecida assistência da infância, gozam uma juventude de prendas que os pais insistem em fornecer, vivendo de moleza e liberdade que os impede de aprender a caminhar com as próprias pernas. Exceções é claro que existem, mas são cada vez menores. Família, escola e sociedade já não sabem ajudar o jovem a amadurecer, pensar o mundo e seus problemas e buscar a necessária competência para o ajustamento futuro. Ignorando situações do quotidiano, conseqüentemente, eles não se sentem capazes de analisar, criticar e discutir as dificuldades que abarrotam nosso meio, indo dos problemas ecológicos até os políticos e sociais. E a vida lhes transcorre suave e tranqüila. A educação também. Não entendem da necessidade de pensar e cuidar.

A vida hoje cuida, sim, em ocupar a juventude constantemente ( muitas vezes explorando) com diversões variadas, barzinhos, motos, carros, passeios, computadores, joguinhos, celulares, baladas, forrós, namoros descompromissados, sexo, bebidas e, tantas vezes, drogas,etc. Então, como ter voz? Que voz? Para que voz? De que é que estão falando? De alguma maneira, têm aquilo que de imediato necessitam e – o que é mais cobiçado na juventude – gozam de liberdade para fazerem o que quiserem. Mas, porém, contudo, todavia... e o Grito? O brado? Que hora restará para o grito se não enxergam necessidades e desconhecem o protesto? A voz verdadeira nasce do esforço individual, da busca de ideais, da inquietação com problemas que abrangem a comunidade, o estado, país e mundo. O legítimo protesto ecoa da responsabilidade que vem de dentro e brota incontrolável do fundo da alma. E ele só sairá do cidadão que percebe, busca, inquieta-se, luta e combate.

Acreditemos que as coisas hão de melhorar. É viável pensar assim, pois uma vez alcançado o fundo do poço sabemos que a única solução possível é a volta.

Evane
Enviado por Evane em 24/06/2009
Código do texto: T1665024
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