A BELA, A FEIA, AS EXPRESSÕES INGÊNUAS E SIMPLES QUE NOS TOCAM

A BELA, A FEIA

A bela, a feia : uma analogia entre produtos dramatúrgicos e literários distintos

A dramaturgia traz às vezes, algumas novidades, não tão quentes como imaginamos, mas de alguma forma, aquecidas pela curiosidade. No caso de Betty a feia, ou a feia mais bela, não tenho certeza, da Record, carrega consigo uma peculiaridade que é o molho brasileiro de nossos autores. Queremos crer, que o tom mais próximo de nossa realidade seja inevitável, em virtude do fazer impecável de Gisele Joras, já provado em "Amor e Intrigas". Além disso, segundo comentários dos colunistas de tv, a obra de origem colombiana e comprada pela Televisa, não me parece que será muito arrolada ao texto original, pelo menos no que diz respeito às peripécias adocicadas mexicanas. Acredito que a autora insira o seu formato, o seu diálogo enxuto, constituindo um texto de qualidade. Não há dúvida que uma novela se arrasta por muito tempo e de acordo com a vontade do público, ela pode se estender ainda mais, pondo em risco todo um trabalho bem elaborado. De todo modo, acho que será um bom produto, porque tem uma proposta humana, que nunca sai de moda, porque mexe intimamente com a emoção do telespectador. Se não vejamos, as novelas de trama mais simples (sem grandes temas ou dezenas de tramas paralelas), por vezes podem ser bem mais admiradas pelo público se souberem cultivar uma verdade intrínseca nos personagens, por mais ingênuos que possam ser. Afinal, os críticos desse tipo de produto televisivo preferem desconfiar do padrão de qualidade das histórias mais “modestas” em detrimento às tramas do horário nobre, não se dando conta dos malabarismos mostrados diariamente nos enredos atuais, muito semelhantes aos daquelas novelas antigas da Glória Magadan, onde havia toda espécie de artifício em cima de textos alheios à realidade brasileira.

Por outro lado, há sem duvida, uma grande diferença na produção de uma novela de tv à criação de um romance com o objetivo natural de ser publicado. Obviamente, que o formato é diferente, as propostas são diversas. A obra televisiva utiliza uma complexidade imensa de profissionais, desde a criação da trama, quanto à escalação dos atores, dos núcleos de diretores, constituindo enfim a imensa gama de pessoas especializadas neste tipo de produção.

O romance, ao contrário, quando de sua feitura, é uma expressão solitária, regida por um profissional que se debruça muitas vezes no vazio de sua imaginação para tocar em frente as trajetórias dos personagens. Muitas vezes, o autor, mesmo prenhe de idéias e de intensivo trabalho, desconhece o futuro de sua obra na apresentação ao público, cujos caminhos, via de regra, são uma incógnita. (A não ser os escritores famosos, que estão na estrada há um bom tempo). De certa forma, esta insegurança também investe sobre os novelistas, porque não sabem tal como os autores iniciantes, qual é o destino de suas criações, claro que em patamares completamente distintos e por motivos também desiguais. Mas vale à pena, pensar nisso. Para o autor que conclui um livro, parece não ter mais nada a cumprir, pois aí é que entram os editores para transformar aquela obra rascunho, com corpo e alma embutido, num suporte novo, que pode ser o livro publicado em papel (sonho de todo autor) ou no formato eletrônico. Entretanto, para os novatos, como eu que inclui o meu livro de crônicas e contos "Hiatos e pontos de vista" no clube de autores (www.clubedosautores.com.br), na rede, a jornada ainda continua e cada vez mais intensa, porque é preciso mostrar o filho, enaltecer seus dotes, mostrar a estrutura adquirida protegendo o espírito recém formado, num processo incansável de divulgação envolto em forte expectativa.

Naturalmente que são produtos aqui discutidos são diferentes. Criações diferentes e profissionais com possibilidades de acesso à mídia completamente distintos. Mas cabe lembrar que o sucesso depende principalmente do conteúdo denso e verdadeiro da história, tanto na dramaturgia, quanto na literatura. Sem contar, é claro, uma boa dose de sorte e a magia alicerçada na força dos meios eficazes de comunicação.

Brindemos ao novo, que pode não ser tão novo, porque uma história é contada mil vezes, mas certamente a linguagem, a roupagem, sempre pode ser mais atraente. Que venham as belas, as feias, as solitárias, as insanas, ao lado dos espertos, dos humildes, dos heróis ou anti-heróis, dos vilões, personagens enfim que desenham nas nossas vidas, o espectro do cotidiano.

Gilson Borges Corrêa
Enviado por Gilson Borges Corrêa em 24/06/2009
Reeditado em 11/11/2011
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