Os seus amores

Casou-se às pressas, por imposição dos seus pais e, principalmente pela imposição dos pais dela, que não aceitavam o fato de sua filha estar grávida sem ser casada, consentiu, apenas tentando minimizar algo que já não tinha mais jeito, e a frente do padre, disse o sim. Não gostava dela, buscava uma aventura, uma “curtição”, como dizem os jovens por aí, e não preveniu-se na hora que lhe foi necessário.

Agora o seu salário, usado tantas vezes para a diversão nos fins de semana, estava comprometido com a sua esposa, despesas de casa e a futura criança, os meses seguintes, após a união, corriam na normalidade, aceitava a situação e costumava-se com ela, combinaram que se a criança nascesse homem, o nome seria dado por ela, e caso fosse uma menina por ele.

No seu trabalho, recebeu a notícia que sua mulher caminhava-se para a maternidade, sentiu uma emoção tamanha, o produto do seu casamento estava para nascer, não conseguindo concentrar-se em seu trabalho, foi prontamente dispensado pelo seu encarregado, dali saiu direto para o hospital, nesse momento já sabia o sexo da criança e a responsabilidade de lhe dar o nome.

Nunca se preocupou com isso, não imaginava que nove meses passaria tão rápido, pensou em todos os nomes possíveis e nenhum lhe agradava, e assim que chegou ao local, chorou ao ver o rosto de sua filha, tão pequena e tão linda, sua mulher chorava de alegria, enquanto a amamentava, e de supetão perguntou a ele qual seria o nome da princesinha, e sem ela saber decidiu homenagear o seu primeiro amor, naquele instante a garotinha ganhava o seu nome, chamaria Gislane.

Noites de sono perdeu para cuidar dela, sua dedicação impressionava a sua esposa, que não acreditava que aquele homem, meio frio e sem sentimentos, teria tanta afetividade com a criança, trabalhava dobrado para garantir o melhor para duas, mesmo que não a amasse, a respeitava, o tempo de convivência, o fez criar um vínculo muito bonito com ela, mas o amor para com a filha era muito maior.

O aniversário de um ano de Gislane, foi a maior festa, convidou todos os seus colegas, familiares e vizinhos, queria que ficasse marcado aquela data, fotos e mais fotos tirou para guardar o momento, seus olhos brilhavam ao ver aquela criança brincando com outras crianças, após a festa deitou-se ao lado dela e vendo ela dormir, ficou admirando-a como se fosse e era a sua pedra preciosa.

Seis meses depois, recebeu a informação de sua esposa que estava novamente grávida, questionou sobre as pílulas, porém não adiantava mais reclamar, deveria se conformar e aguardar a vinda de outro bebê, enquanto isso, Gislane continuava a lhe dar alegria; não perdia nada, os primeiros passos, as primeiras palavras, os seus pais e seus sogros ficavam perplexos, como poderia alguém tão desgarrado dos outros, criar uma afeição tamanha.

Com a notícia, que outra menina viria, não teve dúvida em colocar o nome de outro amor seu, e ao vir ao mundo, Cristiane, foi recebida com muita felicidade, teve o mesmo tratamento que a filha anterior, desde o acompanhamento no berço, os cuidados, a festa de um ano, as fotos, os primeiros passos, nada foi ignorado, seus olhos brilhavam ao ver as duas criaturas brincando, sua esposa, quieta nos cantos, apenas pensava porque ela não tinha o mesmo amor dele, mesmo depois de alguns anos, a resposta, sabia lá no fundo que o seu casamento foi um arranjo.

E sucessivamente mais duas crianças nasceram, Fernanda e Jéssica, como as duas anteriores, foram privilegiadas com o mesmo carinho, e homenageadas com os nomes dos seus dois últimos amores antes de se casar, as festas, os cuidados, tudo da mesma maneira, não deixava em hipótese alguma faltar nada a nenhuma das cinco, o seu esforço era de segunda a segunda, horas extras e feriados eram constantes, no entanto sabia que ainda faltava alguma coisa importante, não material, esse era o bom e melhor, mais o sentimental.

Nesses dez anos de convívio, nunca tinha demonstrado para a sua mulher, o amor que ela realmente merecia, nunca lhe traiu, porém isso não bastava, o que faltava era respeito com a mãe de suas filhas, a mesma dedicação que dava a elas, o cuidado, a atenção, o carinho, uma palavra, um gesto, e isso começou a lhe incomodar, e incomodou tanto que mudou o seu tratamento para com ela, uma mudança geral, e percebeu que aquilo também lhe fazia muito bem.

Agora as cinco, Gislane, Cristiane, Fernanda, Jéssica e ela, faziam parte totalmente do seu coração, dividido em igualdade para todas, não tinha na rua, no bairro, ou até mesmo na cidade, família mais feliz que aquela, ou um homem mais feliz que ele, e precisava demonstrar aquilo de outra maneira, e voltando atrás sobre o desejo de sua mulher de tentar ter um homem, concebeu mais uma criança, mais essa com muito mais sentimento, mais amor, mais desejo, mais transpiração e não apenas o sexo necessário em um casamento.

E no exame de ultrassom, a surpresa, mais uma menina, agora era a hora de homenagear o último amor de sua vida, aproveitar a oportunidade que DEUS lhe deu de consertar o erro cometido durante tanto tempo, e assim que nasceu, recebeu o nome de sua mãe, Aline, pronto naquele momento, poderia morrer em paz, pagava uma dívida com aquela que sempre esteve ao seu lado, assim como foi prometido no altar. A música “Medo da Chuva” de Raul Seixas, que ele ouvia tanto sem sua esposa saber o motivo, havia sido aposentada.

E sem saber também o motivo, dos outros nomes de suas filhas, ela recebeu a homenagem de ter o seu nome dividido com uma filha, e o coração dele abriu-se para receber mais uma moradora, tão bela, tão adorada, tão desejada, tão importante em sua vida, assim como é as outras já residentes dentro dele.

"É isso aí, para quem acredita em milagres, ninguém reparou na Lua, a vida sempre continua, eu não sei parar de te olhar..."

Regor Illesac
Enviado por Regor Illesac em 24/06/2009
Reeditado em 10/07/2009
Código do texto: T1664322
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