Passeio À Bela Vista

Ainda não havia começado o inverno tão esperado onde pudessem se despedir dos constantes maus humores advindos do calor intenso do verão. Porém os fortes ventos anunciavam da brisa febril, logo ali o mar. E não fosse isso o silêncio era absoluto, exalando do lugar o que sobrava de verde, de rústico e uma fraca luz amarela que, embora circulando, era precisa em seu foco: A pequena mesa quadrada ao lado da rede; Tudo isso era a varanda. A rede movimentava ao embalo do vento, abrigando os apaixonados que resolveram adiantar a lua-de-mel tão desejada na comum impaciência juvenil de construir o futuro sempre que o dia acaba e mudam os rumos, cada um se aquece no calor sutil e característico de seus aposentos familiares, e quando retornam à cama, sozinhos, sentem-se num riso discreto e a vontade incontestável de amar.

Nara e Sivuca (José era seu nome, mas como o odiava tratou logo de arranjar um apelido, nome razoavelmente bom para quem tem admiração por sanfonas) tiveram que contornar o pai dela; Almácio, inventando uma prova de matemática no dia seguinte e claro, uma coleguinha de sala que era boa no assunto e estava disposta a estudar com ela. O pai aceitou meio desconfiado, ter a filha ausente por uma noite não podia ser de todo uma maravilha. Os dois seguiram estrada, felizes e cheios de planos. O fato de a pousada ser distante da cidade era suficientemente atrativo para criar um mundo fantástico de liberdade e lógico, o que a palavra podia significar.

O lugar escolhido por ele era bom. Pequeno, mas de aconchegante privacidade. Passearem na praia de mãos dadas enquanto conversavam trivialidades. Os surfistas recheavam a paisagem, pouca gente desfrutava da areia branca, o mar enfurecido ocasionou a certeza de que não iriam encarar o sal. Era realmente um daqueles momentos que se julga felicidade eterna, sensação de que o dia deveria durar o ano inteiro, pois ainda assim não haveria cansaço e nem a apatia costumeira dos casais enraizados pela intimidade do tempo.

À noite depois de asseados e bem vestidos, a boa pedida para o jantar não podia deixar de ser lasanha de camarão. O vinho agora completava o perfil clichê de um passeio romântico. Os corpos rebuscados na tentativa, quase cruel, de não exprimir agitada ansiedade do desfecho: Os dois embriagados se entregando no escorrego dos sucos. E não sentem quando o quarto esquenta anunciando, pela luz do sol, quão breve foi o passeio.

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Shauara David
Enviado por Shauara David em 24/06/2009
Reeditado em 16/07/2009
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