O homem do detergente.
Hoje me espantei com uma frase: “Se não estivesse tão sujo lhe daria o carinho que merece”. A frase me soou como uma cantada dessas que se ouve na rua... Entre as passadas rápidas que se dá na frente de um boteco.
Não... Mas não se tratava (pelo menos foi o que senti depois) de um apelo sexual... Desses chulos apelos sexuais que fazem os homens das ruas na sua crise sexual (lembrando Alexandra Kolontai) atrás de uma próxima pessoa para saciar os seus desejos e prazeres...
A palavra “carinho” diante da situação (ora minha e ora dele) tomara outros vieses. Mas me pus a entender aquela frase...
Mais um ser humano que tentava sobreviver... e que diante de um simples gesto queria agradecer. A gratidão dos simples contaminada pela desumanização do ser humano.
Percebera eu que aquele detergente estava adulterado... Água lhe fora adicionada na tentativa de mais uns trocados conseguir... Perguntei-o se havia colocado água. Ele não respondeu, mas o seu corpo encolhido sim... Mesmo assim me permiti a dar o pouco dinheiro que tinha na carteira de desempregada-empregada por aquele produto de perfume tão distante... Que não faria muito efeito no chão do ap alugado. Um real foi o preço do detergente. Um real? Com direito a trocos em moedas...
É ... Este seria o dinheiro do nosso São João. Estávamos quites. Eu e ele.
Ainda o pensamento quis ir além... “O que faria aquele homem com o dinheiro?“ Depois esqueci... Fizesse ele o que quisesse... Seria a diversão dele por aquele dia... Mesmo se outras moedas fossem juntadas a nota que lhe dera para uma pinga ele comprar. Qual a outra saída de um homem desempregado há mais de dois anos? Esperar por uma benção?
Acho que ele já está esperando demais por essa benção...
A necessidade de sobreviver não espera!
Ângela Pereira.
23 de junho de 2009.