FIM DE CASO
Ele me acompanha desde os tempos da faculdade, onde eu o encontrei pela primeira vez. A nossa história de amor (que não sei bem se é a denominação correta para referência) começou ali.
Nosso namoro teve que ser “às escondidas” porque meus pais não queriam que eu me envolvesse com ele. Diziam que era nocivo e, me faria infeliz, causando danos irreparáveis.
Por ser namoro contrariado ou, por estarmos gostando um do outro, nos apaixonamos e mantivemos por muitos anos uma convivência de mútuo entendimento.
Estávamos sempre juntos, quase inseparáveis. Ele, muito quieto, falando quase nada. Eu despejando monólogos em seus ouvidos parceiros. Fomos, no entanto, vencendo as barreiras e insistindo no nosso amor.
Como em todas as relações afetivas, surgiram divergências e desacordos. Brigas e reconciliações. Uma sanfona de amor e ódio. Era um choro soluçante e um fazer as pazes deslumbrante. Lembro que uma das nossas desavenças custou-nos um afastamento de anos. Depois, por um desses acasos, nos reencontramos. Eu muito sozinha, ele em busca de companhia e bastou para estarmos de novo no mesmo barco. Muitas vezes, ele era tudo o que me restava.
Porém, o nosso “caso de amor” não sobreviveu ao desgaste que assola a todos os que vivem juntos, pela rotina do sempre igual. Sabíamos o bastante, um do outro. Sem maiores novidades, não nos encantávamos mais e nem nos surpreendíamos.
Também, contribuiu para o término da nossa longa ligação, o fato dele não ser bem-vindo nos ambientes freqüentados por mim. Eram escassos e raros os lugares em que nos era permitido ficarmos juntos. A maioria das pessoas franzia a cara quando ele se aproximava.
De repente, cansei-me de tudo isso e da sua companhia, cada vez mais silenciosa e resolvi, de vez, acabar com essa dependência que me escravizava e me limitava na conquista de outros espaços, de horizontes mais longos.
Na realidade, eu vivera durante todos esses anos, sob o domínio de uma ilusão. Envolvida por uma necessidade de ter com quem conversar, deixei-me escravizar, por vontade própria (diga-se de passagem) e disfarcei os meus suspiros entre espirais de fumaça, como os de uma chaminé de choupana no meio do mato.
Agora, que consegui libertar-me do seu assédio envolvente, sinto-me a mais livre das criaturas.
Fim de caso. Acabou. Apagou-se a chama. As cinzas que restaram como sombras de um passado foram varridas da lembrança.
A sensação de liberdade enche os meus pulmões com o ar puro das grandes alturas. Minha alma leve enlaça o meu corpo renovado. Sou outra. Cresci.
O meu caso com o Cigarro teve fim.