Texto para um dia de fetiche.

Texto para um dia de fetiche.

Alexandre Menezes

“... Você pega o trem azul

O sol na cabeça

o sol pega o trem azul

Você na cabeça

O sol na cabeça...”

Não tirava a garota da cabeça que seguramente nascera quase 40 anos depois do seu nascimento. Encontro combinado e toda aquela flacidez não facilitava em nada. Já perdera quase três noites de sono após o encontro ser marcado e, esquecera de dizer que sua circulação sanguínea não percorria por determinados vasos. Não concentrava.

Queria ser outra vez garoto. Aquele do tempo que, ao vento ou ao sol , a sonoridade dos amantes fizera parecer que voava a dois. Já não era mesmo. Ficara arrependido de aceitar o desafio que colocaria em risco toda a credibilidade dos seus cabelos brancos e mesmo assim seguiu para encontrá-la.

Para ele, era apenas uma linda menina levada e assim a via. Nervoso, não sabia como responder a todas as suas provocações ao afirmar sua provável impotência. Ao se encontrarem, ainda gastou alguns minutos explicando o funcionamento do seu carro automático a recém habilitada. Entregou a direção e tentou usar o artifício de dá-la o poder de decidir para onde iriam. Não teve jeito, não conseguiu intimidar. Não arregou.

Por ele, o olhar da moleca era observado no espelho. Determinada, realmente pretendia saber qual seria o limite daquele senhor que ao sair de casa ouvia, repetidamente, uma canção da sua distante juventude quando tudo favorecia e parecia voar. Ela só não sabia que, além dela, e do sol, ele tinha , graças a ciência e a tecnologia, o “trem azul” na cabeça. A honra dos seus cabelos brancos estava salva. Iria se servir daquele corpo nu graças ao trem azul na cabeça.

... O trem azul na cabeça...

OBS- Dedicado a um grande amigo de Patos de Minas. Espero que ele leia um dia.