Biblioteca à luz de velas

Personagem é drama como jornalista é o texto. Os eventos climáticos devem ser evitados ao longo dos capítulos. Os fenômenos climáticos não representam vingança melodramática. Na cúpula da noite o raio fulminante provocaria um enorme medo nas casas simples com cadeiras nas calçadas. Mais do que o crime representado a olhos vistos. As trovoadas ameaçadoras, ensurdecedoras, nada valem como efeito cênico. O público deseja o relato sórdido, nunca a generosidade dos exemplos. Perdura o vilão indispensável ao sucesso. Conta ponto no final das contas do dramalhão televisivo o casamento coletivo. O casamento é o ponto alto da trama.

Uma novela é boa quando um professor, após mil aulas, percebe o quanto tudo se desfaz diante do entusiasmo dos alunos sobre o último capítulo das Índias.

- Com uma índia dessas é melhor perder o caminho, refletem, portanto todo o esforço demonstrativo vai parar no brejo como Mânlio à Rocha Tarpéia. Pobre Mânlio! Tivesse sido crucificado haveria de ser santo. Mas não. Gastou uma fortuna para salvar endividados e permanece esquecido. Abandonado no baú das maldades.

A proporção da trama o pitoresco da arte cênica desliza para a fantasia do exótico que é a maquiagem do cotidiano. O cotidiano fingindo que vê, sem esclarecimento, sem direito, apesar da abundância das leis agindo nas formas tortuosas. Como se a efígie de um espelho pudesse redefinir por si mesma o curso da imagem.

Um ótimo capítulo de novela televisiva deverá calar a voz discordante, indeglutível, com um beijo demorado. Longe da cena das palavras tudo fica melhor dentro da imaginação atordoada, principalmente quando se estende ao benefício da duvida, sem desfazer com brilhantismo as controvérsias.

Pelo contrário “animando-as com barbarismos” di-lo-ia o Senhor, bardo, no alto do seu poder criativo. Nada de culpas para surgimento de culpados. Afinal, que responsabilidade tem os trens e vapores do maior emprego das rodovias? Abandonam-se qualidades por modismos. Essa é à força da indução. A cocada da felicidade ilusória, hipnótica. Nenhuma novidade real deve existir dentro delas.

Novela formidável dá no mínimo uma nova iluminação a todas as bibliotecas do mundo. Biblioteca à luz de velas.

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