O Silêncio
Pus-me a escrever esta crônica com bulícios, com uma música tocada no violão pelo meu irmão mais novo e um cão manso do vizinho que me olhava com uma cara de “me dá um pouco de comida, por favor”!
Disseram que o “silêncio fala”. Será que o silencio fala mesmo? Mas se está silêncio...
O Minidicionário de língua portuguesa Silveira Bueno diz o seguinte: “Silêncio: Estado de quem se obstem de falar; privação de falar; interrupção de correspondência; interrupção de ruído; sossego; segredo; cessação de ruídos e conversas”.
Olhando por este aspecto, ele é somente um minidicionário. O que será que os dicionários maiores irão dizer sobre esta palavra? Então, tenho a convicção que o silêncio não fala de maneira alguma.
Certa feita – como todo jovem – briguei com minha namorada (da época) e houve um silêncio tão repentino que os meus pensamentos voaram além das montanhas; voaram além das savanas, dos rios, dos desertos, das depressões e vales. As conclusões surgiram em apenas alguns segundos de reflexão, ou seja, um átimo de siso. A minha mente disparou. Imaginem comigo: Ela estava errada; tinha se calado. “Quem se cala, consente”. Este provérbio pode até ter razão em algum aspecto, mas não concordo, pois se “nenhuma palavra pronunciares da sua boca o tentador não poderá acusa-lo”. Então, meu estado naquele momento foi de muita gritaria (em silêncio estava minha namorada e eu) interior pelo fato de estarmos calados. Pelo fato dela se calar e eu também, houve motivos para ela pensar e eu também sobre o assunto referente.
O pensamento em si não fala, somente há uma conversa interior em cada um de nós. Mas se não houver nenhuma conversa no exterior, quer dizer: silêncio. Quando o verbo entra em ação a história muda completamente de figura.
Quando cometemos um erro, um delito, uma falta, uma transgressão, um pecado, um adultério, uma traição e estamos naquele sereno que, na verdade parece ser um perene silêncio, a nossa consciência fala: “você está errado!” Nossa voz interior começa a dialogar com o “nosso eu”, então, o nosso amigo de todas as horas é a nossa consciência, ou seja, uma função do espírito. De vez em quando o papo se estende e vai noite à fora, mas está um silêncio na madrugada... De vez em quando os problemas são tantos que não paramos para refletir: refletir é pensar, e o pensar não fala externamente, pois se os pensamentos falassem externamente teríamos que controlar nossos pensamentos para ninguém reclamar conosco por causa da perturbação que causaríamos em outras pessoas. Por isso eu só posso concordar com uma coisa: “O silêncio nos ajuda a raciocinar”.
16/04/02 19h47min