Papel amigo
O papel sempre está disposto a nos ouvir. Nossos amigos nem sempre têm a paciência e a atenção exatamente no momento em que precisamos. Mas o papel sim, está sempre à nossa disposição, para ouvir nossas lamúrias, nossas insatisfações, nossas calúnias, nosso desabafo; sempre acata, nunca discorda. Que atire a primeira palavra quem nunca lhe faltou um ouvido na hora que precisou.
Quantas vezes, quando precisei de “ouvidos”, não recorria a um pedaço de papel onde quer que eu estivesse. E improvisando das formas mais inusitadas: papel de rascunho, agenda, cantinho de jornal, verso de folha de propaganda, guardanapo de restaurante.
A grande vantagem é que para o papel podemos falar e falar, o quanto quisermos, estando certos ou errados, que ele nunca discorda de nós. A grande desvantagem é que ele é rancoroso: guarda palavra por palavra.
E tem outra ainda: se ele vai ou não guardar segredo, depende de nós. Como dizem, palavras escritas são coisas muito perigosas. São levadas à risca da forma que melhor convém a quem as encontra, estando corretas ou não. Tem muita coisa errada escrita que é considerada ao pé da letra.
De qualquer forma, é preciso cuidado ao escrever e mais ainda ao guardar os escritos. Ao falar, pondera-se mais do que ao pensar. Já pensamos muita bobeira impronunciável. Mas ao escrever, pensa-se mais do que ao falar. Por isso as pessoas consideram o escrito como prova. E muitas vezes é mesmo. Já ouvimos “falei sem pensar”, mas dificilmente “escrevi sem pensar”.
Ainda assim, gosto muito de escrever. Diferentemente de falar, dá tempo de se arrepender e mudar, antes de publicar.