A POLÍTICA EDUCACIONAL DO MEDO (Quem tem medo de quem?)
Ocorreu-me que naquela manhã, fui chamado para dar explicações sobre a nota baixa da aluna comportada. Só comportada? Parece-me que até era evangélica! Todavia, o que importa aqui é que ela reivindicava nota 10. Esquecera de mostrar-me a sua atividade em tempo hábil, mas não queria “fazer feio”. Então, a coordenadora joga diante de mim um caderno mal aparentado, ali tinha um pequeno texto com uma caligrafia horrível, porém entendi perfeitamente as acusações que continha aquela “bomba”: não queriam perseguição. E havia a expressa ameaça de chamar a impressa, falar com qualquer que seja, levar o assunto à Secretaria de Educação, com certeza, caso a filha não ficasse com dez no boletim. Era a sua mãe, dando-nos lições de “justiça”. E não faltou quem a apoiasse, uns por medo do “problema” se avolumar; outros para evidenciar que a escola morre de medo diante da comunidade.
Meu erro foi querer manter minha palavra, não quebrar minhas próprias leis, pensando eu que estava sendo um educador exemplar e amoroso, sabendo que “a lei protege o amor; não o leva cativo” (Dick Winn). Mesmo depois da mágica sugestão da gestora escolar, que me pedia para passar outra atividade, alegando à aluna maior momento de reflexão e aprendizado; cuidando da minha reputação e da reputação da escola, perpetuando a cultura do medo de parecer “mal na fita” ou simplesmente clamando por tal justiça, é, até que gostei! Só a coordenadora se recusava, para também fazer valer a sua proposta inicial que era dar nota na atividade atrasada da aluna, já que fizera, sem mesmo respeitar as considerações medrosas do professor. Mas, também, outros alunos descompromissados com a decência e a ordem foram lá para pôr “lenha na fogueira”! O que a coordenadora não percebeu é que o caso já estava em uma estância maior, era uma sugestão da diretora. Um medo suplantava o outro.
Dei à aluna em questão uma nova atividade: fazer um texto de tudo que tinha aprendido sobre o entusiasmo. Estava coerente com a disciplina de filosofia, afinal foi isso que tratei, também, em nossas aulas desse primeiro bimestre. Depois, ela me entregou um texto evasivo, daqueles que se faz só para ganhar nota! Viabilizei o seu dez o mais rápido possível, confirmando assim a política educacional do medo.
A comunidade nos mete medo! Será que temos motivos para isso? Talvez, se compreendêssemos o Maquiavel: "Os homens têm menos escrúpulos em ofender quem se faz amar do que quem se faz temer, pois o amor é mantido por vínculos de gratidão que se rompem quando deixam de ser necessários, já que os homens são egoístas; mas o temor é mantido pelo medo do castigo, que nunca falha."!
Com o outro medo, o de coordenador pedagógico, que obriga o representante de classe encher o caderninho de relatório, "detonando" o professor, é que o professor afrouxa as regras sendo "amigo" dos alunos, talvez use essa amizade para sublimar a deficiência didática dele.
Confirma-nos Patrícia Rech: "A política do medo advém do chamado "paternalismo educacional". Não é preciso ter uma bola de cristal para ver os rumos que a educação de nosso país seguem: péssimos índices de aprovação, péssimos desempenhos registrados pelo MEC e por aí vai. E a culpa é de quem? Sempre do professor. Resignamo-nos a aceitar o que os governantes acham melhor, sem ao menos ouvir o pensamento de quem de fato faz educação: os próprios educadores! Enquanto aderirmos à política do medo, nunca haveremos de encontrar meios para promover uma melhor qualidade de ensino. Tudo o que deveras interessa são dados estatísticos. Educação não dá