"A água corre suave quando o rio é fundo"

O título acima caracteriza-se por ser uma importante citação, digna de ser analisada, para proveito daqueles que tenham espírito de busca e visão ampla. Vejam quem foi o autor dessa frase - nada mais, nada menos do que o inigualável dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare (1564-1616) – o que, por si só, confere um peso considerável a este nosso encontro de hoje.

Existem pessoas que se assemelham a um doce de origem japonesa, chamado “kompeito”, que é formado por muitos ângulos e arestas, isto é, são pessoas que têm a grande facilidade de se “enroscarem” em toda parte, ou seja, que não conseguem fazer fluir naturalmente os seus conceitos e as suas atitudes, por estarem engessadas em moldes extremamente limitados e preconceituosos, e que ainda procuram atormentar seus semelhantes, tentando encurralá-los, de acordo com a sua própria visão estreita – isto é muito comum nas esferas da religião, o que provoca a desvalorização de tudo aquilo que a fé deve representar ao ser humano, como sendo o caminho para o crescimento da individualidade. Os dogmas e os preceitos das religiões foram os responsáveis diretos pela extensão da vida humana na Terra, até os dias de hoje, porque, sem eles, o homem já teria dizimado tudo, teria acabado completamente com a harmonia ecológica mundial, teria simplesmente desaparecido, ingloriamente.

Vejamos então - se analisarmos a situação sociológica contemporânea, facilmente concluiremos que o caminho dessa destruição está se concretizando a todo vapor, embora tenhamos ao alcance os mesmos dogmas e preceitos salvadores, provando assim que, hoje, a sua eficácia não mais se manifesta com a mesma força, portanto o que pode estar acontecendo? Embora a pergunta pareça complicada e embaraçosa, afirmo, com certeza, que a resposta está tão evidente, a ponto de ser difícil de encontrá-la, à primeira vista! Ora, o universo está sempre em evolução, de forma contínua, rumo ao infinito, logo os dogmas e ensinamentos, que têm sido mostrados de forma incompleta e hermética, só obterão resultados satisfatórios, na atual conjuntura, quando “muito bem explicadinhos, nos seus mínimos detalhes”, e que estejam perfeitamente embasados em uma lógica sem contestações possíveis. O tempo da crendice não tem mais lugar útil em nossas vidas – só a explicitação coerente funciona, mesmo assim encontrando barreiras mofadas pelo preconceito, pela preguiça mental e pelo fanatismo da idolatria religiosa, o que complica, e muito.

Quando Shakespeare se referiu à tranqüilidade do fluir da água em rios fundos, fica muito clara a mensagem da importância de nos transformarmos em seres possuidores de profunda cultura espiritualista, capaz de nos conduzir a patamares do mais alto nível de informações, assim nos norteando para a vida, daqui para a frente. Ao nos tornarmos homens do presente, possuidores de conhecimentos jamais revelados até hoje, assim como os leitos fundos dos rios, o andamento da vivência humana irá fluir com grande facilidade e projeção, assim como as águas que se movimentam com suavidade, porque os obstáculos serão ultrapassados com mais facilidade, pela força do volume das águas correntes, ou seja, pela força da sabedoria e do conhecimento. Se continuarmos sendo como o “kompeito”, jamais conseguiremos nos desenroscar dos preconceitos, dos “mistérios”, das crendices, dos dogmas ultrapassados e dos seculares preceitos, que se desincumbiram de seus papéis de forma brilhante, mas que não mais servem no terceiro milênio, assim como aconteceu tanto com o “bicho-papão” como com a “fada-madrinha” – isso está muito evidente.

Isso tudo é muito sério mesmo, tão sério que podemos afirmar, sem medo, que a nossa vida será definida conforme a escolha que fizermos a partir de agora, já que estamos no ponto de mutação entre a pseudoverdade e a Verdade, e, principalmente, entre a transposição ou não pela “peneira” do derradeiro julgamento, onde cada um de nós será o único responsável pela definição final do próprio destino.

Moacyr de Lima e Silva
Enviado por Moacyr de Lima e Silva em 21/06/2009
Reeditado em 25/06/2009
Código do texto: T1660709