05 - AS AVENTURAS...

Nada metia medo na gente, desde que fosse de dia porque se tivéssemos que passar à noite no caminho ou pela estrada, era tal de olhar para trás para ver se existia algum vulto nos acompanhando.

Se porventura ouvíamos um barulho lá pros lados do bambuzeiro ou nas moitas de umbaúba e tiririca, o arrepio dos cabelos começava pelos braços e pernas e provocava um frio na barriga, tinha-se a impressão que o boné ia saltar da cabeça.

“Todo caminho que vai, também volta”, mas para complicar ou para aproveitar mais a malandragem subíamos a estrada em direção ao Explosivo (tinha este nome a localidade, porque houve um depósito de dinamite naquele local) na verdade enquanto “Acampamento” chamava-se Vila Sagrado Coração de Jesus.

Quando chegávamos próximo ao rego d’água que abastecia a parte de cima do pomar, bem como as casas de alguns moradores, (da parte alta), (moravam por ali: Seu Alberto, Xisto, José Adriano e tal de Zé da chácara e um pouco mais à frente o João Tico-Tico).

Entravamos na mata (uma remanescente de Mata Atlântica) acompanhando o curso da água até a Lagoa Preta, assim denominada porque se tinha a nítida impressão que suas águas eram negras pelo sombreamento da mata.

Brincar de gangorra nos cipós das árvores ou de Tarzan, pulando de galho em galho, ou ainda arrancar os cachinhos de mel do “Canudo de Pita” e chupar o melzinho.

Sendo que normalmente, pegávamos os mais inacessíveis, pois, havia um propósito, vamos dizer assim, nojento de puxar um pigarro lá do fundo da garganta e cuspir nos cachinhos mais baixos, deixando a meleca que no outro dia estaria misturado no mel que à noite árvore produzia à disposição de outras turmas que não fossem as nossas.

Explorar galerias e túneis também fazia parte das nossas aventuras, nossa galeria predileta ficava na encosta do morro do Alto dos Pinheiros.

Com o propósito de fazer exploração, e que eu me lembre nunca chegou a termo, entrávamos na galeria percorríamos uns vinte ou trinta metros, a gente topava com o fim do túnel, dando de cara com um paredão.

Então, havia uma bifurcação para a direita e outra para a esquerda, a partir daí, ninguém tinha coragem de se aventurar mais e seguir adiante, pois, a iluminação natural e nossa macheza terminavam aí.

Nós não íamos além deste ponto, isto quando muito chegávamos até lá, porque era comum algum gaiato dizer que pisou em algo estranho ou ouviu um barulho e era uma debandada só em direção à saída, não sei quem chegava primeiro na boca da galeria os morcegos que ali moravam ou nós.

Aí ficávamos na promessa jamais cumprida de ir noutro dia até a profundeza da alas.

(Esse túnel/galeria foi feito por pesquisadores, certamente em busca de ouro).

Jogar bola na chuva também tinha um sabor diferente, este era o programa, enfiar o pé na bola encharcada, atirando lama no adversário e no goleiro tomava conta de todos como que encarnados no espírito-de-porco, uma doce lembrança.

Noutros tempos o “Mundo, vasto mundo” como disse um dia o poeta não desfilava nas chuvas raios matadores, como o olhar das mocinhas do nosso tempo, exceto num certo acampamento dos escoteiros.

Não havíamos convivido com o terror dos raios nas tempestades.

Somente o raio que passava sobre nossas cabeças era quando o Zé Sérgio, lá no imenso galpão de guardar mercadorias e entre sacos balaios e arreios dos burros, mulas e do cavalo branco de nome Corisco arremessava a Teresa para acertar alguém que insistia em atrapalhar ou perturbar as aulas, bradando com voz de homem feroz gritava:

- ô raio vê se pára com este barulho dos infernos!

Nossa turma não era feita de anjinhos se é certo que na turma a audácia de fazer trapalhadas como pegar frutas no pomar sem autorização, esgueirando pelos buracos da cerca era o máximo da bagunça que alguns se atreviam.

Logo após a descarga de adrenalina, Seu Zé, como carinhosamente o chamavam, liberava a entrada no pomar, se bem que já se sabia de antemão, naquela ou na próxima semana este alguém que o fizera perder as estribeiras iria pagar o pato na hora da educação física.

Sim, duas vezes por semana havia aula de educação física e ordem unida.

Era correr até o Aeroporto pela estrada acima em direção ao Explosivo ir em direção à Fazenda do Américo Guerra voltando pela mata da Chácara, tínhamos na chamada ordem unida que aprender a marchar e ouvir uma preleção sobre disciplina, moral e civismo valores que deveríamos cultivar.

Informações ao leitor:

Esta história completa compõe-se de oito outros textos:

01- Futebol no Campestre um caso...

02- A Galera

03- Os caminhos da Chácara.

04- A Chácara Minervino Bethônico

05- As aventuras

06- Como disciplinar

07- A Espera

08- Campestre, O bairro, um caso de amor

09- Das belezas naturais

(POSTADO EM RECANTO DAS LETRAS, DIA 00/06/09)

VEM AÍ O ENCONTRO ANUAL DOS CAMPESTRINOS!

AGUARDE, PARTICIPE!

CLAUDIONOR PINHEIRO
Enviado por CLAUDIONOR PINHEIRO em 21/06/2009
Código do texto: T1660688