Série Ego em Prosa: 5) Invasão de Privacidade
Invasão de privacidade
9/Setembro/2008 • Nenhum Comentário
Invasão de Privacidade
Imaginem-se em uma sexta-feira, após um dia de trabalho cansativo, uma semana cheia de coisas para resolver, dormindo muito tarde, acordando muito cedo. Tudo o que mais se quer é chegar em casa, tomar um bom banho, jantar e se jogar na cama para uma boa e tranquila noite de sono, retomar as forças. Tudo o que você mais deseja é apenas dormir, sabendo que sábado você poderá descansar em paz e acordar mais tarde que o usual.
Sábado, 10:00 horas da manhã. Sua mãe abre a porta, o cachorro latindo, chegam os parentes. Um casal com um filho pequeno. O homem, fala mais alto que todo mundo, grita para sua esposa pegar coisas na geladeira da sua casa, conversam todos com um tom de voz alto. Arquitetonicamente falando, você está em um apartamento pequeno, onde seu quarto e a sala são muito próximos. A porta não é capaz de criar uma barreira anti-ruído. E você, que chegou tarde na sexta-feira, após uma semana agitada, simplesmente não consegue mais ter sua bela noite de sono. Acorda às 10:00 da manhã, com aquele mau humor, porque não deixaram você dormir. E muitas vezes, ainda, é obrigado a ouvir “nossa, como você está de mau humor”. Por que será?
Existem duas palavras que faltam nesse acontecimento: respeito e silêncio. Às vezes as pessoas não tem noção do seu tom de voz, não respeitam sua privacidade e seu momento de descanso, chegam na sua casa fazendo barulho, como se você não tivesse o direito de dormir até mais tarde no final de semana, falam alto, pedem coisas, andam pela casa, enfim, uma série de comportamentos que ultrapassam os limites da paciência e da compreensão de qualquer ser humano. Será que até o direito de dormir, em sua própria casa, vamos perder? Detalhes adicionais do caso acima: 1) isso aconteceu com quem os escreve no final de semana passado; 2) o casal e a criança envolvidos estão aqui praticamente todos os dias da semana, pois moram perto; 3) isso ocorre quase todos os finais de semana; 4) eles são parte da família.
Talvez as pessoas não façam por mal. Em contrapartida, no caso acima relatado, também, se for o inverso, ou seja, se eu fosse o perturbador da ordem e do descanso alheio, com certeza geraria um conflito maior. Quando é com os outros, todo mundo adora, agora quando pisam no nosso calo, dói muito mais, não? Confesso que fui vingativo: o homem, no caso, meu primo, tem o costume de dormir no sofá da sala (sim, como se não bastasse, ainda aguento o ronco dele, que não é tão baixo assim). Eu liguei o som no computador com as músicas mais eletrônicas, mais batidas e em um volume audível pela casa toda (como disse, o apartamento não é grande). Minha prima até pediu se podia encostar a porta. Será que incomodei alguém? Perturbei o sono de alguém?
Acho que sim. Afinal, “pimenta no olho dos outros, é refresco”!.