AS NOITES DA MINHA INFÂNCIA.
TAS NOITES DA MINHA INFÂNCIA.
As noites da minha infância começavam muito cedo. Não havia luz elétrica, a iluminação era feita à luz de lamparinas ou lampiões à querosene. Não havia muita coisa para fazer. O mais importante era escutar histórias de duendes, fadas ou fantasmas. As histórias que deixavam as crianças trânsidas de medo, eram aquelas que falavam do saci-pererê, da mula sem cabeça, do lobisomem, dos botos namoradores, da iara,da matinta pereira e outras...Diziam que esses entes eram pessoas conhecidas, que tinham uma sina para cumprir. Quando eu via uma pessoa, assim, com um jeito esquisito já ficava imaginando que ela bem que podia ser um daqueles entes. Medo e curiosidade, não deixavam que eu e minhas irmãs nos afastássemos do contador de histórias. Ouvíamos tudo de olhos arregalados, sem perder nenhum detalhe. Havia lá no meu povoado, um amigo de meu pai, o Tio Bené, que era famoso por suas histórias. De vez em quando, ele pousava no nosso sítio e aí, era festa...Em uma dessas noites ele nos contou esta história:
-Sabe Comprade Santeiro que o Chico Prudêncio foi atacado pela mula sem cabeça? Meu pai perguntou onde fora o tal ataque e o Tio Bené, narrou o acontecido. Disse que o Chico Prudêncio estava voltando para casa depois de ter ido namorar. Já era noite alta e escura que nem breu. De repente, ouviu um tropel forte. Não teve dúvidas de que era a mula. Escondeu-se no oco de uma árvore, à beira do caminho. Daqui há pouco, lá vem a mula soltando fogo pelo toco do pescoço...A mula cavou o chão, cheirou o ar e olhos pro lado onde estava o Chico. E ele ali, duro que nem pedra, morto de medo!.Chico lembrou-se de rezar o Creio em Deus Padre para ver se a mula ia embora. A reza surtiu efeito e a mula saiu em disparada dando coices em tudo que via pela frente! O Chico só saiu do oco da árvore, quando já era dia alto, assim mesmo ainda com muito medo do bicho. Depois dessa história, todas as crianças foram dormir, cobertas dos pés à cabeça, com medo da tal mula. Lá na varanda, Tio Bené despedia-se também para dormir, prometendo mais histórias da próxima vez.
Conceição Gomes.