O CANDITADO

Atender pessoas e um prazer incomensurável a qualquer hora do dia, trabalhando em casa me realizo e ate esqueço dos réves que a vida me destinou.

E hoje no explicar a utilidade das caixas para um cliente simpático, de paletó e gravata do tipo serio, lhe digo os preços e explico que caixas grandes servem para coisas leves como, por exemplo, brinquedos.

— Não tenho filhos somos um casal gay, não sei se você se lembra de mim fui o único candidato para deputado homossexua, o que gerou uma confusão danada.

Ai ele se levanta vai ate o carro e ao retornar...

— Vou consultar o meu marido pelo celular.

E se acomoda na cadeira ao meu lado com seu celular no viva voz explicando mal os preços e a utilidade das caixas, e eu intercedendo varias vezes, ai ele me diz:

— Ta caro vou tentar conseguir mais barato.

Eu mudei o assunto para refazer a abordagem e lhe perguntei se havia ganhado a eleição.

— Que nada ganhei foi porrada.

— Como assim?

— Eu estava num estacionamento com uma bichinha pequenininha e daí chegou dois bandido brutalhões armados e mandaram a bichinha entrar no porta malas avisando que era um seqüestro e me disseram gritando.

— Entra ai também.

— E eu disse, não entro!

— Como não entra? Porra!

— Não me cabe, eu não sou surdo, não precisa gritar.

— Se não entrar eu te mato.

E com a arma na minha cara lhe disse...

— Não ta vendo que não me cabe seu burro.

— Entraaa, entraaaaaa...

— Não entro é muito apertado, não gritaaaaaa.

— Se não entrar vai morrer.

— Para mim tanto faz com essa bicha e que eu não fico e se entrar vou matá-la de porrada... só cabe umaaa... ai vai ficar uma só, não vê olha o meu tamanho eu sou uma bicha grande demais deixa de ser burro e vê se me enxerga.

E me batiam pedindo dinheiro e quando pararam...

— Viu seu idiota eu lhe disse que não tinha, não adianta me bater seu grosso, debochado.

— Então vou meter uma bala na tua cara e te matar.

— Tem bala de prata?

— Porque?

— Por que bicha não morre vira purpurina e só a prata mata bicha.

— Filha duma puuutaaa!

— Vamos fazer o seguinte, você vai embora e me da o numero da sua conta no banco que eu deposito uma grana, uns cinqüenta paus ta bom?

— E você deposita mesmo.

— Só um ladrão burro como você pode acreditar que toda bicha é burra, é por isso que esta roubando seu idiota, e claro que eu não deposito, eu estudei não sou como você seu bruto, burro.

— Eu quero grana.

— Eu também quero e nem por isso estou te batendo.

— Cala a bocaaaa... suaaa bicha.

— Novidade! Bofe Sem graça.

E me encheram de porrada com vários chutes na cara quebrando meu maxilar e arrancando-me vários dentes com uma chave de fenda e ainda queriam grana ai eu perguntei para bichinha se ela tinha ela disse que não.

— Como e que vai fazer porra.

— Eu sei lá, me comer e que não pode.

— Porque???

— Numa bicha nervosa, sabe como e depois que entra tranca e pra soltar não sei não.

E me bateram ainda mais e foram embora sem nada, o que eles não sabiam e que na mala do carro tinha quatrocentos mil reais embaixo da bichinha bem feito, para um bruto debochado.

E eu ria do jeito que ele contava e ate mesmo lhe perguntei se ele era escritor, porque o achava um ótimo contador de historia e enquanto isso ele me mostrava às marcas do seu terror pessoal...

Hoje questiono o porque de estar rindo de tamanha violência e me vem que desde quando ou quem determinou que uma tristeza deva ser ouvida tristemente, ou que nos devamos nos torcer de dor quando nos contam das pancadas sofridas.

No ultimo enterro que fui tive que ficar de cabeça baixa, pois não parava de rir com o coral dos sniff, sniff cantados pelos narizes melecados e ainda por cima o padre se achou no direito de interromper varias vezes o seu trabalho fúnebre, triste, pois se sentia incomodado com a algazarra dos convidados do lado de fora da capela, para mim ficou claríssimo questionar: Temos que ficar tristes e aos prantos ao lado de um defunto? Eu mesmo gostaria de uma festa maravilhosa na minha saída de cena, pois com certeza na minha entrada a tive então nada mais justo que eu receba a mesma homenagem na minha saída. Quero é festa!

Esse candidato deveria escrever uma crônica a minha memória e fraca e tendenciosa a observações pessoais, e mesmo porque não gostaria de escrever literalmente o que tive o prazer de escutar, uma crônica de uma comicidade incrível relatando um fato verídico, fiquei chocado com o drama vivido, mas sem trauma ou medo e alerta na possibilidade de uma possível reversão dos personagens principalmente quanto à atitude tomar diante de monstros travestidos de gente, verdadeiras bonecas violentas.

DiMiTRi

25/12/04 13:35