A felicidade sem espera

Li o livro “A felicidade desesperadamente”, de André Comte-Sponville. Como é muito filosófico, precisei lê-lo lentamente para digerir bem os seus conceitos. Não foram indigestos, não. Eu os saboreei muito bem para saber se concordo com as idéias. E achei-as muito interessantes, principalmente dois pontos que me chamaram mais a atenção em todo o livro.

O primeiro é a sua definição de felicidade. Ele diz que felicidade é ter aquilo que se deseja. Mas quando se consegue aquilo que se deseja, já não se deseja mais. Se não há desejo, não há felicidade. É preciso desejar outra coisa. A felicidade é sempre conseguir aquilo que não temos. E se temos, já não somos mais felizes.

Paradoxal, mas verdadeiro. Nunca estamos felizes com o que temos...

O segundo ponto explica e complementa o primeiro. É sobre a palavra “desesperadamente” do título. À primeira vista, parece algo estranho, negativo, uma procura pela felicidade impacientemente, loucamente, em completo desespero.

É até uma questão de tradução do francês para o português, a dificuldade de se encontrar uma palavra que expresse exatamente a intenção do autor-filósofo. Com “desesperadamente” ele quis dizer que deve-se buscar a felicidade sem esperar. Significa ser feliz neste exato momento, onde estamos agora, sem ficar esperando que a felicidade chegue um dia no futuro. E sem também condicionar a felicidade ao fato de conseguir alguma coisa ou se obter determinada condição.

De acordo com Sponville, quanto mais esperamos ser felizes, menos o seremos. “Estamos constantemente separados da felicidade pela própria esperança que a busca.” Se esperamos a felicidade, não podemos escapar da decepção: ou porque a esperança não é satisfeita (sofrimento, frustração), ou porque ela é satisfeita (no desejo satisfeito não há falta, não há mais desejo, não há felicidade).

“As pessoas que fazem que as coisas mudem não são as que esperam, mas as que lutam”, diz ele. E conta uma história budista. Alguém pergunta ao Buda: “Mestre, como é que seus discípulos, que são tão pobres, são tão alegres?” Ao que responde simplesmente: “Eles não lamentam nada do passado, não esperam nada do futuro, é por isso que são tão alegres.” E Sponville complementa: “Trata-se de viver no presente (não no instante, mas no presente), trata-se de parar de se ludibriar, parar de fingir, parar de esperar, trata-se de aprender a viver de verdade em vez de esperar viver.”

Então, não vamos mais adiar a nossa felicidade! Como ele diz, “triste viajante o que só espera a felicidade na chegada!”

(Catalão, 15/06/2009)

Hélio Fuchigami
Enviado por Hélio Fuchigami em 19/06/2009
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