Adeus   




  
Dizer adeus após uma vida em comum de oito anos e dois meses nunca é fácil. Mas era preciso. Pensei nisso esporadicamente nos últimos três anos. No final do ano passado decidi fazer isso, mas acabei deixando para lá. Sempre fui comodista. E agora, sem mais nem menos, de uma hora para outra, tomei a decisão. Muita gente se espantou quando eu cheguei com a novidade.  Sou assim mesmo. Quando verdadeiramente decido, faço na mesma hora, sem pensar muito. Fiz. Tomei a decisão na terça-feira, na quarta todos os papéis já estavam assinados e ele foi embora. Não disse adeus, nem eu. Foi estranho. Não mais que de repente eu olhei e ele não estava mais lá. Tivemos bons momentos juntos. Ruins também. Alguns acidentes de percurso, isso acontece em toda relação longa. Ultimamente estávamos estabilizados. Sei que ele se ressentia do meu desapego. Nunca me importei que outras pessoas saíssem com ele assim como eu muitas vezes saí sem ele. Acho que a vida é assim. Não, eu nunca vou me esquecer desse tempo em que passamos juntos. Meu corpo já estava amoldado ao dele e o dele ao meu. Com ele eu me sentia em segurança. Gostava dele, muito. Se o deixava livre é porque essa é minha natureza. Minha família às vezes se espantava e me perguntava: como pode tratá-lo dessa maneira? Nunca vi nada demais em meu modo de agir. Não era por falta de querência, era simplesmente por achar que não vale à pena se apegar de mais a nada. Nunca me apeguei a esse tipo de situação. Mas acho até que passaria o resto de meus dias com ele se não estivesse envelhecendo tanto.  Daqui para frente só iria me dar trabalho e despesas. Preciso controlar um pouco minhas despesas e tenho certeza de que meu velho Fiesta Prata ficará bem mais feliz em mãos mais cuidadosas. Mas que vou sentir saudades, vou. Ah, se vou!!!