Manuscrito
Três meses de barba por fazer. Ando lugarzin por lugarzin da casa, o pássaro enjaulado já não emite nem um som.A rua lá fora arde, o vapor exala do asfalto desbotado pelas chuvas torrenciais do último março.Resolvo me olhar no espelho, meu rosto refletia-se nele? Ou era o rosto de alguém que deixei de conhecer a muito tempo? Que reparava em meu corpo, alquebrado e febril..
Rodopio nos calcanhares e vislumbro uma caneta que ao contato de minha mão trêmula me fez sentir algo gelado e inerte por sobre papéis avulsos.
Sento-me diante daquele dia, como outro qualquer, a tinta da caneta transbordava naquelas folhas que esperavam ser possuídas por palavras, mesmo que inúteis e mórbidas.
Fito novamente meu rosto e não me reconheço.Apraz-me terminar o testamento que a pouco comecei, que deixo para a prosperidade, quem sabe as cinzas dessa matéria sirvam para adubar outras já deterioradas pelos tempos indos, aos avessos.
Fernando Pereira de Aguilar – aluno do 6º Período de letras - PUCMINAS