Só a mudança é permanente
“Não há nada permanente, a não ser a mudança” – Heráclito (540-480 aC). Vejam que preciosidade de sábias palavras, pois à primeira vista parece uma incongruência, no entanto é uma afirmativa de impacto, que nos deixa boquiabertos, principalmente quando verificamos que foi proferida há quase quinhentos anos do nascimento de Cristo, pois mesmo assim ela é perfeitamente atual e exprime uma verdade incontestável.
Há quem diga, por exemplo, que o amor perde o vigor ou até se acaba, com o correr de uma vivência conjugal, enquanto outros afirmam categoricamente que ele se eterniza “pra todo o sempre” – vamos então “filosofar” em cima desse assunto. Antes, vamos nos lembrar de que existe grande confusão sobre o amor, a paixão e o apego, conforme já tive a chance de demonstrar em outra oportunidade, logo deixemos claro que o discurso será apenas sobre o mais nobre dos sentimentos – o amor; este sentimento, quando vivenciado em sua plenitude, conduz qualquer ser humano ao caminho da felicidade, com certeza, porque ele está ligado “em linha direta” com o Criador e envolve inteiramente a nossa capacidade de praticarmos o altruísmo verdadeiro, e a ação altruísta gera um novo sentimento, o da gratidão de quem foi beneficiado, que se reverte em energia positiva para o agente benemérito, que assim acaba sendo agraciado com a própria ascensão espiritual – é assim que funciona.
Podemos então começar a concluir que, em qualquer dos casos apresentados, tudo vai depender de um montão de variáveis, inter-relacionadas, que demonstram posições divergentes, e que podem trazer explicações até plausíveis para todos eles, ou seja, podemos chegar a respostas afirmativas para cada um de per si, o que não corresponde à lógica, pois estaríamos confirmando posições antagônicas, como sendo conclusivas e legítimas.
Para sairmos dessa enrascada, basta nos lembrarmos de que tudo, absolutamente tudo no universo está em “permanente mudança” e que nós, a cada minuto que se passa, não somos os mesmos de antes, basta verificarmos o crescimento dos cabelos e das unhas, o constante nascimento, crescimento e morte das nossas células, havendo até órgãos do nosso corpo físico que se renovam completamente a cada 24 horas, portanto o filósofo e pensador Heráclito estava certo. Tudo no universo encontra-se em evolução contínua, portanto as mudanças sempre fizeram parte do Plano da Criação; acontece que a grande maioria dos habitantes deste planeta ainda não percebeu essa pura verdade e continua estacionada, sempre no mesmo lugar, cuidando permanentemente de coisas absolutamente inúteis e inócuas, e depois não consegue entender nem aceitar os reveses que a “vida” lhe prepara, como resultado da desvalorização e negligência dadas ao tempo que lhe foi concedido para viver, de forma útil, produtiva.
Quanto ao fato do amor diminuir, se apagar ou se eternizar, só vai depender da forma pela qual nós estivermos mudando o nosso “sonen” (razão-sentimento-vontade) – vamos exemplificar, usando a hipótese da “eternização” do amor conjugal: Suponhamos um casal, unido há mais de 30 anos, sendo que um dos cônjuges venha a falecer e, por essa razão, o outro comece a definhar aos poucos, perdendo o seu horizonte, almejando a chegada da própria morte para ter a oportunidade de se encontrar com o seu amor no “outro lado” da vida. Quando isso acontece, as pessoas ficam maravilhadas, chegando a sentirem inveja desse amor “tão lindo”, que ultrapassa até as barreiras da diferenciação de dimensões entre a vida material e o mundo espiritual.
Pois é, esse critério de julgamento está totalmente errado, porque, se existia um laço de amor entre eles até haver o desenlace, aquela forma de reação passou a ser uma prova de que houve uma transformação radical no “sonen” do cônjuge sobrevivente, saindo do amor para cair no sentimento de apego (medo da solidão, sensação de perda, insegurança etc.), que só acontece na situação de amor próprio ferido ou de pena de si mesmo, onde o verdadeiro amor ficou a léguas de distância. _Perceberam o quanto muitos têm que mudar, para conseguirem acompanhar a naturalidade da evolução universal?