Branquinho de neve

Certa manhã, já no final de fevereiro, fui despertada por vozes e muita agitação. Abri a porta e vi muita gente correndo com a máquina fotográfica na mão. Chamavam os outros para ir lá fora. Havia neve! José e eu fomos também.

O parque estava lindo, todo branco... Era a primeira vez que isto ocorria naquele inverno. A neve, tão esperada por nós, finalmente chegava a Paris. Que emoção!

Cada um reagia a sua maneira: tocando-a com as mãos, querendo experimentar seu gosto, dando pulinhos de contentamento. Tudo acompanhado de exclamações. Ninguém estava indiferente, todos tinham uma opinião a dar. Nossa, como é engraçado!... Pra mim, é igualzinho ao que eu imaginava... Que beleza!...

Na verdade, para nós, ela tem algo de mágico. Conhecendo-a somente através de histórias, filmes e cartões postais, ela aparece em nossos sonhos, enfeita nossa imaginação, atiça a nossa curiosidade. Poder tocá-la transforma-se num ato extraordinário, quase irreal.

Diante da neve voltamos a ser crianças, nos sentimos felizes, pura e simplesmente. Ninguém teve vergonha de brincar, de fazer bolinhas e atirar nos outros. Nem de fazer bonecos feios e desajeitados. O prazer de pelo menos uma vez na vida poder brincar com ela é infinito.

Rimos, fotografamos, corremos, perseguimos e fomos perseguidos. Só depois de muita folia é que lembramos que o tempo voa e estávamos atrasados para nossas atividades. A vontade geral era de continuar ali, como se fosse a hora do recreio. Na volta da escola, à tarde, ainda pudemos brincar um pouco mais.

Esta fraca nevada durou apenas três dias, ao final dos quais só restou, em frente à nossa Casa, um desajeitado e feio boneco modelo Terceiro Mundo, empunhando uma bandeirinha do Brasil.

Alguns dias depois, margaridinhas rasteiras brotavam nos gramados do parque.