Homofobia: o que tenho a ver com isso?
“A proposta de enlaçar com a proteção da cidadania e envolver com o manto da juridicidade quem só quer ter o direito de ser feliz, pois a ninguém é outorgado o direito de indicar um único caminho de busca da felicidade.” Maria Berenice Dias Desembargadora do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul- Vice-Presidente Nacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família – IBDFAM
Com esta citação Marcelo Nascimento, advogado, militante dos movimentos pelo respeito aos direitos humanos, contra a violência e líder do GGAL, Grupo Gay de Alagoas, encerrou uma mesa temática concorridíssima sobre HOMOFOBIA*, no XII Congresso Estadual dos Trabalhadores de Educação de Alagoas, juntamente com a professora da rede pública estadual e mestranda Maria Alcina Ramos de Freitas
(Cininha ), que discutiu A FUNÇÃO DA ESCOLA NA CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADES, DE PAPÉIS SEXUAIS E NO COMBATE DA INTOLERÂNCIA E DISCRIMINAÇÃO.
Com muita satisfação fiz a coordenação desta mesa e pude constatar o quanto temas dessa natureza nos inquietam, nos desafiam. Saber lidar com práticas preconceituosas e discriminatórias, especialmente no espaço da escola, é uma das habilidades necessárias ao educador/a, esteja ele ocupando o papel de diretor/a, coordenador/a pedagógico/a, professor/a, merendeira/o, apoio administrativo ou serviços diversos.
Infelizmente, cenas de banalização da violência contra pessoas com ORIENTAÇÃO SEXUAL (atenção! não é escolha) diferente, tem sido noticiado diariamente. Com o agravante de que, crimes assim, revelam requintes de crueldade, atrocidades inomináveis, deixando claro o ódio de quem pratica atos assim. A homofobia na escola começa com a piada no corredor e descamba para o bullying **cotidiano, até a selvageria do espancamento, da morte com requintes de perversidade.
Com muita satisfação coordenei o debate, com mais depoimentos emocionados e contribuições as falas dos palestrantes do que mesmo de questões polemicas, embora sempre apareçam e nos dão motivo para reflexões, para que revisitemos alguns (pré) conceitos, algumas posturas institucionais e pessoais: afinal, porque agredir fisicamente ou ofender com palavras alguém apenas por que a orientação sexual é diferente da nossa? Por que a afetividade e/ou o prazer do outro, da outra nos incomoda?
Quero deixar claro também que, como educadora e como pessoa, não estou fazendo APOLOGIA a homossexualidade. Apenas não abro mão do direito de me expressar quando a intolerância nos bate a porta e esfrega em nossos narizes o quanto não estamos cumprindo o nosso papel de defender a dignidade, o direito de cada um e de cada uma ser, em essência, o que se é.
Quantas perseguições? Quantas mortes ainda teremos que contabilizar? Mesmo que as relações afetivas entre pessoas do mesmo sexo sejam a vitrine preferida do apedrejamento, do escárnio e da falta de civilidade de muitos, é papel de cada educador e educadora, em cada espaço educativo que atue, se posicionar contra esse ato de total desrespeito a dignidade e direito da pessoa humana.
Recomendo, para uma leitura informativa e séria os artigos e entrevistas da desembargadora Maria Berenice Dias no seu site http://www.mariaberenice.com.br e coloco a disposição de educadoras educadores interessados no material em PPT trabalhados por Cininha e Marcelo.***
Peço apenas que cada um e cada uma, só por alguns minutos, “vista a pele” de quem, diuturnamente, luta para fazer valer seu direito cidadão e inalienável de ser quem é, de buscar sua felicidade como mais lhe convir e se pergunte o que tem a ver com isso.
“Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na Segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.” [No caminho com Maiakóvski- Eduardo Alves da Costa]
* Homofobia - aversão a homossexualidade, ódio aos homossexuais, atitude agressiva as pessoas LGBT...
**O termo BULLYING compreende todas as formas de atitudes agressivas, intencionais e repetidas, que ocorrem sem motivação evidente, adotadas por um ou mais estudantes contra outro(s), causando dor e angústia, e executadas dentro de uma relação desigual de poder. Portanto, os atos repetidos entre iguais (estudantes) e o desequilíbrio de poder são as características essenciais, que tornam possível a intimidação da vítima. http://www.bullying.com.br
***Conheça também BRASIL SEM HOMOFOBIA, Programa de Combate à Violência e à Discriminação contra LGBT e de Promoção da Cidadania Homossexual, resultado de uma parceria entre o Governo e sociedade civil organizada pela Secretaria Especial de Direitos Humanos que prevê uma série de ações nas áreas da saúde, segurança pública, trabalho, educação e cidadania.