Ventinho gelado

Antigamente o inverno era mais regular, um período contínuo de baixa temperatura. Ao sair cedo pra faculdade, pegar o ônibus e ainda caminhar uns quarteirões, como eu sofria! Às vezes tinha que usar mantô e cachecol. Em São Paulo! Sentia-me outra pessoa.

Aí, então, minha cabecinha voava... Subindo a rua Dona Veridiana, eu me imaginava na Itália. Ah! Como seria bom se um dia eu pudesse ir pra lá estudar... Mas também podia ser em Londres, Lisboa ou Paris... E nem pensava no frio que teria que enfrentar. Queria era conhecer outras terras e outras gentes, quiçá diferentes.

Bem, o tempo passou, meu sonho se realizou. A primeira empreitada foi na Inglaterra, justo quando?... No mês de janeiro! Que frio, meu Deus do Céu! Nunca pensei usar três malhas de uma vez, além de calças compridas, camiseta e casacão. Eu mais parecia um bolão. Enrolava bem o pescoço e na cabeça metia um gorro. Nos pés, botas forradas e meias de lã. Mesmo assim, eu tinha a impressão de que a pontinha das minhas orelhas, e do nariz, iam se quebrar.

No começo foi difícil andar vestida desse modo, mas acabei me acostumando e cheguei a remexer na bolsa, rodar chaves e manusear moedas com as mãos enluvadas. Imediatamente fiz uma reforma no meu guarda-roupa. Taierzinhos Chanel, blusinhas de algodão e sapatos de salto alto, tratei logo de despachar pro Brasil.

Aquele ventinho gelado, batendo no meu rosto, me inebriou. E conquistou.