Resposta a uma carta belga - haicais, Europa niilista x Brasil selvagem...

Resposta a uma carta belga - haicais, Europa niilista x Brasil selvagem...

(Goiânia, GYN, Bélgica, Europa, carta, nihilismo, realidade selvagem, transformação)

"Boa noite, e grato pela carta belga, colega - os romanos com aquela sabedoria prática (e selvagem), diziam, como sabe, “in vini, veritas"!

Tudo o que tenho elaborado é, em síntese, vontade de experimentar, tentar, escrever, e experimentar de novo.

Um amigo engenheiro me manda uma foto de uma ponte. Eu a observo, reduzido tudo às coisas mais simples e, deixo ver o q acontece na mente. E vem a imagem - uma lira! O som da lira tocada pelo vento...

Um amigo me conta uma piada? Reduzo toda a história a três linhas - como fiz hoje e, transformo num poetrix que lembra o humor sutil dos velhos mestres japoneses (Buson, por exemplo...).

Às vezes, até mesmo um recado sem importância. Leio e, deixo a mente processar - e, então... Mas que calor!

Os haicais que considero melhores – o que coincide com um tom mais descritivo, são frutos de contemplação quieta e metódica. Tenho as noites e as manhãs de domingo para fazer isso. Então, vou para o quintal da minha casa. Me sento - cabeça reta, espinha ereta e o coração tranqüilo. Vou vendo o que se desenrola por ali – desde o movimento da luz do sul, até o movimento de animais e pássaros, enfim, o que se sucede naquele micro-mundo e micro-clima. Depois anoto e, vou tentar escrever. E volto ao rascunho, rabisco, risco ou rasgo e, depois...

...Levo pra postar. E revejo, e corrijo, se for preciso.

Pena que em algumas comunidades sobre haicai, muita gente está mais a fim de exibir os trabalhos e suas teorias. Mas, os haijins de verdade estão por aí. No Recanto das Letras, também. E eles tem paciência com a gente, leem, fazem crítica, elogiam e a gente vai em frente, elaborando mais e mais trabalhos...

Enfim, é isso.

E desse mundo bege (e, afirmo, estéril, de umas décadas para cá) de que fala, sei de alguma coisa, pelos olhos do meu irmão, que viu coisa semelhante por aí, quando morou num país europeu. A cidade limpa, sempre contrastando com hábitos e costumes atávicos. Ele me disse que se há uma coisa que europeu faz, é fumar - e beber...

Sem trocadilhos, a Europa perdeu o norte. Uma esterilidade só. Já tem tudo o que supostamente julgam importante e precisam: democracia, economia estável, escolas, estradas, confortos da vida moderna. O que mais a fazer ou conquistar?, parecem perguntar eles. Perderam o tesão pela fornicação, esqueceram de por filhos no mundo - preferem cães, gatos e sítios históricos. Para onde vai a Europa?

Para disfarçar o niilismo, uns se dedicam ao são periodistas, entram para uma ONG. Já não se importam muito em ressaltar e pregar os valores básicos do homem e da democracia representativa. Estão, por assim dizer, muito na “deles”...

Nós, bem ao contrário, temos uma realidade selvagem e dura para transformar por aqui. Mas, a vida pulsa incontida e violentamente, de norte a sul.

Homens e mulheres fornicam irresponsável, mas vigorosamente, põem filhos de todo jeito, o tempo todo, no mundo.

Tratores plantam dia e noite. A indústria não tem nada de blasé. A juventude disputa aos empregos - mão de obra farta e, ainda, barata.

A educação não presta, o sistema de sistema de saúde não presta, a segurança pública é um caos - mas, isso é o nosso retrato interior, transposto para o mundo material.

O político é analfabeto e, ladrão? Onde ele achou votos? Assim é o nosso país! Mas, não para a vida por aqui é tesuda, tropical, lancinante.

E meu jeito de tentar ajudar é ser um cidadão razoável, consciente de seus direitos, ideologicamente colocado. Quando sobra sobra tempo, atiro umas pedras, dou minhas pedradas e, depois jogo ou mando flores a quem me ajudou apedrejar! Unanimidades? Tolerância com com nulidades? Não é o meu caso...

Boa noite. Mas, agora me bateu: voce tem desculpa. Mas, eu... Qual foi o vinho que tomei?"