Buzinas da Discórdia

São Paulo hora do rush, no meio de um enorme trânsito, meu motor resolve que é hora de "descansar" vou para a lateral da pista e espero ele resolver funcionar, em meio ao vai e vem me pego imaginando de onde vieram tantos carros e pra onde estão indo, tantas histórias e pessoas diferente.

Dei inicio a uma observação mais atenta, os carros e as pessoas dentro deles, onde o senhor que dirige carrancudo está indo? Seu olhar fixo por cima do volante... Meu devaneio é interrompido por uma buzina, desvio o olhar por um instante, o suficiente para aquele senhor me deixar para trás, recomeço, observo agora uma senhora que delicadamente faz sua maquiagem, quantas rugas consigo contar e verifico que o avanço da idade não diminuiu sua vaidade, provavelmente já tinha netos, talvez bisnetos... E tome outras buzinas... Começo a me irritar com o número de motoqueiros e suas buzinas ininterruptas, leio em um baú (que um dia foi branco, hoje só se vê um tanto de adesivos) de uma moto “Se derruba me levanto, te derrubo e te espanco” percebo que estou no meio de uma guerra não declarada, são carros contra motos, e assim como eu tinha acabado de descobrir, aposto que a senhora do batom ainda não sabia que enquanto corrigia alguns percalços que a vida lhe impôs (entenda, pés de galinha e rugas) estava no meio de um campo de batalha... E tome Buzina... Derepente um motoqueiro incosequente arrasa com um pobre retrovisor que levou a culpa por uma "fechada".

Comecei a pensar nos motivos que poderiam levar a essa discórdia, imaginei que não devia ser por causa do petróleo (desculpe meu motivo pueril, aprendizado que carrego desde muito novo, “toda guerra é por causa de petróleo” meu pai e suas teorias malucas), muito menos por causa de alguma terra santa, enfim imaginei algumas possibilidades torpes e parei uns segundos para observar o trânsito, percebi a reação dos carros quando uma moto passava e igualmente reparar na moto que seguia seu caminho por entre os carros, todos sabemos que os motoqueiros não respeitam as leis de trânsito, mas o que realmente incomoda é ver que as motos estão indo embora e suas buzinas ensurdecedoras, mas com certeza são as irritantes buzinas e seu barulho que invade, confunde, incomoda o mais pacato motorista.

Enfim, dei partida e meu motor respondeu, acabou meu momento de reflexão, recoloquei meu capacete e sai em disparada por entre os carros como um valente soldado da minha causa, com o dedo na buzina e um sorriso maroto no rosto.

Kleber Parra
Enviado por Kleber Parra em 17/06/2009
Reeditado em 17/06/2009
Código do texto: T1653262
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