Mudando de estação

A pior das estações pra mim era o inverno. Não gostava do frio. Ficava com os pés gelados e minhas mãos arroxeadas até chamavam a atenção. Agora dou risada, parece piada, isto foi nos meus tempos de jovenzinha, acredite quem quiser.

O que me deixava feliz era o calorão do verão. Curtir a praia, banhos de mar, muito sol pra bronzear... Assim que o outono chegava, o azul intenso do céu me encantava, a luz reberverava. Mas eram dias que prenunciavam o frio. E o que acontecia todo ano, sem perdão, era a virada que se dava no meio de abril. Daí em diante minha tortura começava. Sair da cama quentinha, logo de manhãzinha, que sacrifício! E depois ir pra rua, ficar no ponto do ônibus, feito pinguim...

Durante o dia o sol acalentava, às vezes até demais naquela terra de Piratininga. Aí então, lá no colégio, ao lado de tanta gente, minhas faces afogueavam e meu nariz, ai meu nariz... inchava! Virava avermelhado, igualzinho ao de um bebum, como se não bastassem as espinhas do rosto. Eu queria morrer.

Felizmente, com o passar do tempo isso tudo deixou de acontecer. Continuo a gostar do verão, mas aprendi também a apreciar o inverno. E hoje, para contrastar, prefiro que seja bem frio, e assim poder ficar diante da lareira olhando a dança das labaredas, o pensamento voando, com um cálice de vinho na mão...

E, então, me vem a comparação. Serão aquelas chamas ardentes iguais às paixões da gente?...