Família: berço da formação de regras, princípios e valores
Família: berço da formação de regras, princípios e valores
Laura Leal
A relação dos sujeitos com as regras, princípios e valores, elementos constituintes da moral, tem se apresentado como alvo de grandes questionamentos.
Talvez a principal pergunta seja: A quem cabe a formação moral?
À família? À escola?
A família tem um importante papel nesse contexto, porém, não é a única responsável.
A escola também pode e deve colaborar nessa empreitada, organizando ambientes, onde o modo de vida democrático oportunize a vivência da cidadania, para o nascimento do respeito mútuo e para o desenvolvimento da autonomia.
As atribuições da escola e da família são diferentes, porém complementares, ambas perseguindo um objetivo comum: que suas crianças e jovens sejam mais sábias e felizes.
Turiel, psicólogo especialista em desenvolvimento, elencou em seus estudos, três tipos de educação moral no seio familiar, que podem ajudar a escola a contribuir com os pais, na compreensão das conseqüências das suas posturas educativas em relação aos seus filhos.
1º Tipo: EDUCAÇÃO AUTORITÁRIA, pois se assenta na imposição de regras que são legitimadas através de frases como “Faça isso, por que sou seu pai (ou sua mãe), “Obedeça, porque eu sei o que é melhor para você”, reafirmando uma autoridade sábia e inconteste.
Essa é sem dúvida uma postura clássica da educação moral familiar, fortemente contestada nos últimos anos por educadores e filhos.
Trabalha os limites de forma autoritária. Consegue a obediência, mas o custo da obediência divorciada da reflexão é muito alto, capaz de comprometer o desenvolvimento da autonomia, ancorando pessoas, às vezes pela vida inteira, no estágio da heteronomia moral – submissas e condicionadas a outrem.
2º Tipo: EDUCAÇÃO POR AMEÇA DE RETIRADA DE AMOR. A razão dessa denominação se traduz em expressões que fazem a criança entender que a sua desobediência entristece os pais: “Quando você não faz as tarefas, eu fico muito chateada”. A mensagem de “desamor” está relacionada ao não-cumprimento do que foi estabelecido.
Trabalha os limites, apelando para a afetividade. Possui o mesmo ingrediente da autoritária: o medo, que muda de objeto – o medo do abandono substitui o medo da punição. Institucionaliza-se, assim, a simetria no relacionamento familiar: pais e filhos passam a ser “iguais”. Uma verdadeira autoridade, quando desobedecida, não fica triste. Portanto, um pai que se diz chateado com a desobediência de seu filho não está assumindo a autoridade que lhe cabe nessa função.
3º Tipo: EDUCAÇÃO ELUCIDATIVA, pois toda ordem ou repreensão é acompanhada da explicação de sua razão de ser, em geral baseada na conseqüência dos atos (responsabilidade) e na consideração do outro. Por exemplo: “Se você mentir, ninguém mais vai acreditar em você”, “Se você não fizer a tarefa, não conseguirá acompanhar as atividades em sala de aula”.
Trabalha os limites, sustentando-os em explicações. É a que mais contribui para a promoção da autonomia moral, pois não se abstém de colocar limites, nem silencia sobre o que é permitido ou proibido. Seu grande diferencial é o de trazer a dimensão racional – a razão de ser das regras e princípios – trabalhando, portanto, a idéia de que a moral possui fundamentos racionais que podem ser avaliados à luz da inteligência.
Evidentemente, não se trata ainda de autêntica relação democrática entre iguais, uma vez que as posições de pai/mãe e filho são assimétricas por natureza, mas prepara a criança para que ela alcance e valorize a igualdade, sem a qual, a autonomia, não faz sentido.