A Verdade e a Mentira
A VERDADE E A MENTIRA
Há muito tempo atrás em terras longínquas onde a mentira reinava, a verdade resolveu se materializar em forma humana, para viver e sentir a vida que levavam os habitantes do mentirão. De repente sentiu-se homem, acordou em areias de uma praia suja, abriu os olhos e viu gaivotas circundando a grande confusão que sua vida se tornara. A luz brilhava sobre a crista de cada onda verde acinzentada mais não havia embarcações. Encontrara-se plenamente desperto no mar vazio desejando poder voltar no tempo. Levantou-se caminhando a passos largos farejou uma tempestade assomando toda a cidade, é que estava próximo às eleições municipais e candidaturas medíocres disputavam o poder palmo a palmo. Olhou para o mar e mais adiante no alto de uma ladeira a luz do dia havia se esparramado pelos manguezais e telhados dos casarões seculares, é que no mentirão é assim as vezes diz que chove, mais não chove... O sol parecia iluminar cada telha e vidraça das janelas dos mirantes desgastadas pelo tempo. Mais a oeste a brisa avisava e as nuvens negras se aproximavam um pouco mais. Foi assim, assaltado por uma sensação de que precisava urgentement6e se lembrar daquele momento, mais na hora não fazia a menor idéia do motivo. É que decidira que alguma coisa precisava ser feita para ajudar a um povo que se encontrava em pesadelos mais que tinham um sonho de rara beleza de liberdade uma liberdade que nunca existiu...
Ao rememorar lembranças adormecidas seu argumento de conclusão foi uma divagação chauvinista de que o tempo se passara depressa e a conclusão não menos amena levava à convulsão de que a esperança lembrava apenas uma nevoa branca sobre as brumas de uma manhã de outono e muito embora as arvores estivessem floridas seus frutos seriam amargos de mentiras que se espalhariam nos noticiários, nos falsos inquéritos, nas peças jurídicas de acusações e nas decisões dos magistrados não expressassem a verdade e a caluniosa mentira estaria carregando uma dezena de volumes de uma imoralidade processual cuja intenção seria a condenação de mais um inocente.
O tempo era um redemoinho de possibilidades, mais todas elas exigiam mudança radical, para isso seria necessário um herói mais eles não existem a não ser na literatura infantil ou filmes do gênero.
A verdade, cansada e com as forças exauridas procurou o palácio do governo de onde foi expulsa, foi ao encontro do alcaide mais esse se encontrava em peregrinação política para eleger ao seu candidato e nem notou a sua presença, foi então à policia e lá ma ameaçaram de prisão. Procurou os Juizes esses riram na sua cara e quiseram julgá-la por comportamento injurioso. Em ultima instância foi ao povo esses a receberam, falaram de seus problemas, suas dores e contaram os seus sonhos de infância e relataram seus pesadelos, a perseguição e a falta de respeito com a qual os tratavam aqueles que viviam no topo da pirâmide e que transformavam inocentes em criminosos e esses em heróis. Havia naqueles rostos temerosos uma expressão de medo e ao mesmo tempo um resto de esperança, afinal se encontrava a apenas poucos dias das eleições e, quem sabe... A providencia Divina viesse sobre a cabeça de todos e o aval do voto sufragado na derradeira tentativa de mudança, que a grande tempestade viesse sim, mais com a força de um furacão e que os eleitos não trouxessem seus trunfos nos bolsos, mas boas intenções nos corações...
A verdade vencida, derrotada e arrependida de ter saído da condição de frase de expressão para viver a vida dos homens, cambaleante em direção ao mar e antes que se apagasse o derradeiro raio de sol, eis que se encontra com a deslavada mentira também em forma humana, essa, sorrateiramente lhe pergunta: que achastes do meu mundo, cara colega? Gostastes do que eu ensinei aos homens desse lugar?
Olhastes nos olhos dos poderosos e também vistes que povinho mais tolo? Todos os dias eu mexo com a cabeça deles, eu calunio, minto, ponho desejos e causo brigas e mortes e também não rara as vezes ponho inocentes na prisão e nos tribunais para enfrentarem um Júri por crimes que jamais cometeram e assim, me divirto muito, sabes, este é o meu mundo que divido com esses infames que vivem tão pouco mais o suficiente para odiar e serem odiados.
Cabisbaixa a verdade se despediu meneando a cabeça, caiu de joelhos nas areias sujas da mesma praias e, como uma estrela subiu, foi-se para não mais voltar, afinal, a sua curiosidade a maltratara, porém ela não deixou de ser verdadeira e hoje naquele lugar é a primeira estrela da manhã...