A praça encolheu!

Certa vez me deparei ali, no meio da praça, com uma dura realidade. Aquela praça onde eu brincava há tanto tempo estava encolhendo! Fiquei por muito tempo observando e, quanto mais observava, mais ela diminuía de tamanho. À medida que essa constatação ficava evidente para mim, parecia que menos eu brincava e mais me angustiava. A praça foi encolhendo, encolhendo e, quando parou de encolher, também parei de brincar ali.

Como podia ser uma coisa dessas, ficava eu a pensar. Com certeza deve haver uma explicação, pois praças não encolhem; nunca ninguém me falou disso, nem mesmo meus pais.

Até o imenso banco que havia encolheu! Eu e mais uns cinco amigos ficávamos sentados, brincando com as garotas que passavam. Hoje devem caber no máximo uns três. O tempo foi passando e cada um foi estudar e morar para o seu lado. Eu mudei, os amigos e as garotas também, porém a praça continua no mesmo lugar, só que para mim hoje em seu real tamanho.

A criança se foi e a maturidade me colocou vendo as coisas com suas dimensões reais. Muitas vezes é difícil esta situação, mas ela é necessária para enfrentarmos a vida que é implacável e totalmente compromissada com a realidade nua e crua. Sem rodeios ou fantasias, o amanhã dependerá, uma parte, das minhas atitudes de hoje. A outra não há o que fazer a não ser aceitar minha impotência humana. Virá independentemente do que eu fiz, faça ou deixe de fazer.

Diante de tudo isso, talvez um dia, meu corpo frágil e debilitado pela velhice possa novamente acreditar que a praça esteja voltando a crescer.

João Azeredo
Enviado por João Azeredo em 16/06/2009
Reeditado em 27/01/2014
Código do texto: T1651804
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