Texto para a musa que não foi minha.

Texto para a musa que não foi minha. (rascunho)

Em rodas de conversas bodas, onde textos e canções são apresentadas por autores amadores desatinados, sempre surgem comparações, desejos, surpresas e previsões sem nenhuma base científica ou teorias malucas para sustentá-las. De repente nascem o novo e injustiçado cronista, a inspirada poetisa, o conto dos contos... e eu, como de costume, prefiro rir, observar e pensar em nada ou em quase nada.

Melhores que as obras são os críticos: amigos e admiradores de qualquer coisa apresentada. Não poupam elogias e comparações absurdas. São tão loucas que é comum, no dia seguinte, rirmos dos exageros e da enorme falta de nexo: a amizade e o álcool contribuem bastante. Beira a alucinação.

Quase nunca leio os meus, sou muito tímido. Lembro de um dia em que resolvi levar um texto que considero bacana, mas que não recebeu muita atenção porque fora ofuscado por uma bela canção apresentada por um dos amigos: violão sempre atrai a atenção. Em menos de um minuto o jovem compositor cantava melhor que a Elis, escrevia melhor que Chico Buarque e sua interpretação fora comparada à do Wando, Elimar Santos e Caetano Veloso: que comparações.

Fiquei no meu canto aliviado. Não deram bola, não recebi elogios e fiquei relendo a minha criatura, já não achando tão boa assim, enquanto ríamos dos paralelos estabelecidos naquela noite. Nesses dias, sempre se percebe alguma inveja e ciúmes entre os participantes quando se pode ler em seus olhos “esse deveria ser meu”. Quem consegue se despede e volta tudo ao normal.

Nesse último encontro, fui para casa refletindo sobre as críticas recebidas pelo meu prodígio e talentoso amigo e, nostálgico que sou, uma lembrança da adolescência me fez sentir uma inveja danada não do meu colega escritor e sim de um dos seres a quem foi comparado: Caetano Veloso. Confesso que já fui mais fã dele, parece fala de invejoso mas não é, só que em certa fase da minha vida chegou a ser meu ídolo e o meu pior vilão ao mesmo tempo, não pela obra, mas pelo conjunto de uma única obra: Vera Gata.

Meus olhos brilhavam ao vê-la, sonhava acordado, delirava no banho, lia e cantarolava a canção do Caetano pensando: “aquela música deveria ser minha”. Inveja danada que eu sentia dele e ensaiava um dia encontrá-la para provar que comigo a relação teria mais técnica,teria maiores sensações, paixão, fogo: ela não teria dúvidas porque eu não tinha. Sem jeito e sem musa, adolescente inocente, voltava aos meus livros e pedia a Deus para que a teoria do atrito não funcionasse em certas partes do meu corpo que insistiam em ignorá-la ao folhear a revista e pensar na Vera Zimmermann.

Alexandre Menezes
Alexandre Menezes
Enviado por Alexandre Menezes em 16/06/2009
Reeditado em 27/10/2011
Código do texto: T1651030
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