O velho Tuco e o papagaio - já viram...

O velho Tuco e o papagaio - já viram...

Essa aconteceu lá na terrinha e, quem me contou foi um amigo - sobrinho do seu Tuco, do qual falo nas linhas aí embaixo:

O velho Tuco, morador da região do Córrego Azul, tinha por companhia apenas um sobrinho, na modesta casinha construída na chácara, onde levava uma vida típica dos pequenos agricultores da região, isto é, muito trabalho para pouca renda, fora a solidão daquela vida de viúvo, naquelas paragens.

Um dia, o sobrinho chegou à noitinha do trabalho na fazenda vizinha, trazendo de presente um filhote de papagaio, dizendo que o bichinho serviria para fazer companhia e diversão. O filhotinho ganhou logo o nome de Bicudo.

O velho Tuco, sistemático que só ele, acabou concordando, mas avisou ao sobrinho que nada sabia dessas artes de tratar de filhote e, por exemplo, ensinar o bicho a falar. Mas, o sobrinho se dispôs a fazer tudo isso sozinho.

E assim foi. O bichinho foi crescendo, tratado à base de mingau de fubá de milho. Logo encorpou e vieram as belas penas, que cobriram todo o corpo. Na regra da criação por ali, tratou de aparar as penas de uma das asas, para deixá-lo solto pela casa, sem que pudesse voar e, ir embora. E também começou e dizer coisas para o papagaio repetir. Nisso, se afeiçoou por demais ao pássarinho.

Mas, um dia, o velho Tuco voltou mais cedo do trabalho e, flagrou ao sobrinho ensinando palavrões e frases de baixo calão ao papagaio, que, alegre e sacolejante no poleiro, as repetia, alegremente. Aquilo contrariou por demais o velho turrão, que ordenou ao sobrinho que deixasse as asas do bicho crescer e, depois, o soltasse guarirobal que ficava na entrada da chácara, lugar onde encontraria comida farta e, logo, a companhia de outras aves de sua espécie.

O rapaz, pediu e insistiu lamentosamente para que o papagaio ficasse, mas o seu Tuco não abriu mão de sua decisão. Um mês depois, com muito pesar, o papagaio foi levado pelo rapaz, para ser solto no guarirobal. Depois, de pouca insistência, o bichinho voou, para não voltar mais.

Tempos depois, o velho Tuco ia a cavalo numas terras vizinhas e, quando chegou à porteira divisa de sua chácara com a fazenda vizinha, avistou um casal de papagaios que veio voando e assentou sobre o mourão da passagem. Ele, que era do coração meio duro, lembrou na hora da avezinha que o sobrinho cuidou. Chegou mesmo a pensar que um deles parecia o Bicudo.

Quando abriu a porteira e já ia atravessando a divisa, depois de uns grasnados, ouviu lá de cima do mourão:

- Ô Tucôo! Ô Tucôo! Vai tomar no c*! Vai tomar no c*!

Fim.

(Goiânia, GYN, crônica, papagaio, pássaro, velho sistemático)