Amor único
Perguntaram-me: “Ao ler alguns textos seus, fiquei com uma dúvida. É possível ter mais de um 'amor único' na vida? Sei que parece paradoxal, mas acredito que cada amor que vivemos é único, porém a dúvida é se realmente é possível encontrar um outro amor único.”
Precisei ler mais de uma vez para certificar-me que havia entendido o foco da questão e ponderar razoavelmente para elaborar a resposta. Em se tratando de amor, nada é paradoxal, justamente por não ter mesmo explicação. Ou será que é exatamente nisso que está o paradoxo? Complexo mesmo.
De toda forma, achei interessante a pergunta. Parece-me o caso de uma pessoa que encontrou o seu amor e que, sendo bem jovem, tem lá certo receio de perdê-lo, e caso isto aconteça, teme não encontrar outro amor tão “único” quanto este. Ou então, justamente por ser bastante jovem, queira experimentar outros “amores únicos”.
Todo amor verdadeiro é “único”. Se é realmente “amor”, é único, especial, inesquecível. Se não é único, não é amor. Mas único é diferente de insubstituível. E para viver um amor correspondido, não depende só da gente. Não adianta só um querer.
Imagine também que trágico seria se o nosso amor nos abandonasse e nunca mais encontrássemos outro “amor único”! Além disso, um sábio filósofo japonês já disse que nesta vida estamos destinados a nos separar das pessoas que amamos. Só não sabemos como nem quando. Duro e real.
Assim, o amor único está associado ao “tempo”. Então, um amor é único naquela época. E “época” pode ser toda uma vida ou uma única noite. Se o amor acabar ou a época passar, haveremos de encontrar outro amor único.
Por isso, precisamos viver de acordo com a época, nunca preocupados demais com o futuro ou insistindo em manter resquícios de amores do passado. Devemos viver “unicamente” o nosso amor. Isso não significa viver só de amor ou ficar igual macaco, “pulando de amor em amor”.
Uma vez, quando um namoro estava terminando, me disseram: “você nunca vai encontrar alguém que te ame tanto quanto eu.” Aquilo ficou na minha cabeça por muito tempo. Depois, descobri que a pessoa tinha mesmo razão: encontrei gente que me amou até mais! Cada um ama de um jeito. Cada um manifesta o amor do seu jeito. E é por isso que cada amor é único.
“Amor único” é diferente de “único amor”. Se dizemos que “Capitu foi o 'único amor' de Bentinho”, significa que ele não amou mais ninguém na vida. Por outro lado, dizer que “Dulcinéia foi um 'amor único' para Dom Quixote” quer dizer que ela marcou a vida dele, porém ele teve outros amores.
“Amor único” existe sim. E podem existir vários na vida. “Único amor” é mais difícil. Só teve quem não viveu suficiente...
Em meio à resposta, aconselhei: “se você já encontrou o seu amor único, parabéns! Cuide bem dele, porque é coisa rara mesmo. Mas também não sofra à toa, porque a vida não é só para viver de amor... tudo é importante!”
(Catalão, 15/06/2009)