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Era uma vez um homem "da cidade grande" que conheceu uma mulher do interior. Eles se apaixonaram e começaram a namorar. A primeira vez que ele a beijou, ela na sua ingenuidade do interior, achou que estava grávida. Parece piada? Parece, mas não é. Esses são meu pai e minha mãe a trinta e muitos anos atrás.

Meus pais namoraram durante 8 anos até se casar. Nas fotos do casamento, meu pai usava terno lilás e gravata bordô. Ainda bem que ao longo do tempo ele adquiriu bom gosto em relação a cores de roupas. Minha mão usava o branco básico de todos os casamentos. Um tempo depois de casados, ganharam minha irmã mais velha, Lilian, hoje com 30 anos. Depois da minha irmã, eles começaram a tentar um menino, mas 4 anos depois veio mais uma menina, Adriana, minha irmã do meio, hoje com 26 anos. Continuaram a tentar um menino. 4 anos depois, eu, mais uma menina. Pararam de tentar. Tentam me convencer que sou a "rapinha do tacho", mas não conseguem. Ninguém me tira da cabeça que sou a pecinha que faltava.

1986 nasci. Não lembro da minha vida antes dos 3 ou 4 anos. Lembro de quando fui pra escola, pré-escola, oh tempinho bom. Lembro de quando fiquei pela primeira vez sozinha em casa e fugi para a escola onde minha irmã estudava. Que confusão que eu criei. Lembro das brincadeiras com as crianças da vizinhança. Lembro que fugia para subir em árvores. Lembro da minha babá e que desde criança eu era péssima em futebol e em qualquer outro esporte. E sempre ficava na goleira, isso significa, o saco de pancadas.

Na adolescência eu descobri que ficar dentro de casa me deixava de mau humor. Até hoje isso não mudou. Descobri festas, vários amigos, conversas longas por telefone, garotos, olhares, ficadas, fofocas, disputas, roupas, futilidade, caminhos certos e errados, pessoas boas e más, o que importa e o que é descartável, confusão, muita confusão e principalmente diversão. Fase confusa essa. Passou. Eu me descobri. Sei quem eu sou. Sei de onde vim. Pra onde vou é um detalhe, que só interessa a mim. Parei de querer o que passou. Tem coisas que não voltam. O que tiver que ser será. Só eu posso escrever o meu futuro. Eu tenho esse poder. Eu quero. Eu posso.

Tenho 23 anos e me sinto com 15. Às vezes chego a agir como se tivesse 15 e não me importo. Odeio me sentir adulta. Adulto é um saco. Adulto é estranho. Até hoje não descobri se adulto não tem lógica alguma ou tem lógica de mais. Mas não importa. Muita coisa não importa. Muita coisa que eu sempre dei importância e não deveria. 23 anos de pensamentos perdidos. Mas também de bons pensamentos. 23 anos de histórias. 23 anos de vida. 23 anos de Débora, a pecinha que faltava.

Debora Souza
Enviado por Debora Souza em 15/06/2009
Reeditado em 17/08/2009
Código do texto: T1650100
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