Semi Deuses
“Na vida não conheci ninguém que tenha levado porrada. Todos são semideuses”.
Salve Fernando Pessoa.
No mundo em que eu vivo me parece que todos são perfeitos, ninguém tem problemas, mas quando os tem, os seus são sempre maiores do que o dos outros. Estes semideuses sempre estão certos do que dizem, nunca acordam de mau humor ou com meleca no olho. O cabelo sempre esta perfeito, as roupas sempre alinhadas, não suam ou peidam, estão sempre perfumados, sabem falar e discutir todo e qualquer tipo de assunto e nunca aceitam um não como resposta.
Aí vem uma pergunta interessante que me atormente tremendamente.
E como ficam as pessoas como eu, aquelas que não são perfeitas?
Que acordam de mau humor e de vez em quando com tanta meleca no olho que mal conseguem abrir os olhos. Que quando não tem certeza do que vão falar preferem ficar de boca fechada. Que nem sempre estão bem vestidos ou o que é mais inaceitável para estes super seres, não ligam para o que vão vestir. Que são tímidos “jacú” mesmo, e que gostam de ficar sozinhos de vez em quando e que gostariam de viver em um mundo menos egoísta e fútil.
Egoísmo talvez não seja a palavra mais correta neste caso, pois neste mundo onde somente os mais fortes sobrevivem e que sempre se espera o melhor de todos é difícil julgar alguém. É consenso geral que temos que matar um leão por dia para não morre como um veado e que sempre tem alguém para lhe dizer, supere seus limites, busque sempre o melhor, tenha ambição, só vence quem trabalha duro e tantas outras frases feitas que não passam de baboseira e papo furado.
Porque todos temos que ser sempre os melhores em tudo para sermos reconhecidos? Porque não podemos apenas ser nós mesmos, pessoas que erram que tem medo, frustrações ou ser apenas pessoas “maios ou menos” e não sempre os melhores em tudo. Talvez neste mundo de hoje já não haja mais espaço para pessoas, mas sim para estereótipos de pessoas.
Existem aqueles que buscam a aceitação coletiva. São aqueles que querem ser parecidos com alguém, com um cantor, ator ou qualquer coisa que traga a sensação de respeito ou proteção dos demais membros da sociedade. Para isto acontecer fazem de tudo desde se trajar igual até mesmo falar e andar como seu objeto de desejo.
Também existem aqueles que se julgam os diferentes ou revoltados com a sociedade normal e neste caso fazem o possível para chocar os demais. Mas como uma andorinha apenas não faz verão e como somos animais coletivos, juntam-se em grupos.
Estes grupos tornam-se verdadeiros famílias onde todos seguem um padrão preestabelecido mesmo que isto esteja implícito. É claro que qualquer um fora dos padrões do grupo esta sumariamente excluído a não ser é claro que assuma uma posição servil e submissa.
O mais interessante é que cada um destes grupos acha-se melhor e diferente do resto da sociedade em geral, mas não percebem que apenas fazem parte de outra espécie de sociedade. Uma sociedade paralela.
No fundo todos são tão iguais nada muda realmente. Todos os “diferentes” ou todos os “iguais” gostam das mesmas músicas, mesmas roupas, mesmos pensamentos desde é claro que seu grupo aceite e ache normal.
Bom aí entramos em um termo realmente fascinante, o que é normal?
Na minha tosca concepção normal é tudo aquilo que todos consideram certo. Por exemplo, é normal trabalhar, casar, estudar, andar, falar, vestir-se, telefonar, comer, ouvir música, falar mal do outros, andar nu. Ops!
Andar nu não é normal ou melhor não é considerado normal por um conjunto de pessoas. Mas a partir do momento que algumas pessoas se juntam e começam a andar nus aí sim se torna uma coisa normal pelo menos para estas pessoas que resolveram que andar nu é normal.
Sei que esta ficando muito complicado, mas o que quero tentar descobrir é por que não pensamos sozinhos? Por que necessitamos sempre que alguém nos dite as regras? Por que não podemos apenas seguir aquilo que acreditamos ser certo mesmo que seja errado? Por que sempre perguntamos por quê?
É verdade que se todos pensassem como eu seriam todos iguais a mim o que tornaria este desabafo apenas mais um como milhares de outros iguais. Na verdade estou escrevendo isto na esperança de que alguém que também pensa como eu leia para que possamos formar um grupo. E também poder excluir qualquer um que não se encaixe nos nossos padrões.
O que me tornaria finalmente uma pessoa normal!