MIA COUTO E OS IPÊS

Está em “A Varanda do Frangipani”, de Mia Couto: “O velho branco se debruçou a apanhar uma flor que tombara da árvore. As flores do frangipani eram alimento para os olhos do português: ele as via cair, como escamas do sol, brancas transposições das nuvens”.

O “velho branco” de que se diz acima é Domingos Mourão, interno do asilo da fortaleza de São Nicolau, situada na costa de Moçambique, um dos personagens do romance.

Viesse Mia Couto a Mato Grosso do Sul, faríamos juntos um passeio pelos recantos bucólicos do nosso município. Iríamos, destarte, ao Pulador, ver os ipês brancos que se acumulam ao pé das serras, branquejando a região, como as cascatas, que caem de sobre as pedras. Depois, ao Barreirão, pela estrada que nos liga ao distante pantanal, comer, em uma das tantas fazendas de gado, um delicioso frango com gueroba e ver, após a sesta e os doces de caju , goiaba e mamão, os ipês amarelos que ondeiam e se perdem à distância, no meio do cerrado. Em seguida desceríamos ao Vale do Mimoso, onde as flores dos ipês roxos fulguram e caem no ribeirão para enfeitar os cabelos de Iara, Mãe d’água.

Depois desse passeio, Mia Couto levaria mudas de ipê ao seu país e reescreveria aquela frase, que ficaria assim: “O velho branco se debruçou a apanhar uma flor que tombara da árvore. As flores do ipê eram alimento para os olhos do português: ele as via cair, como pétalas de luz, amarelas transposições do sol”.